segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

KATIE MELUA, If you were a sailboat

If you're a cowboy I would trail you,
If you're a piece of wood I'd nail you to the floor.
If you're a sailboat I would sail you to the shore.
If you're a river I would swim you,
If you're a house I would live in you all my days.
If you're a preacher I'd begin to change my ways.

Sometimes I believe in fate,
But the chances we create,
Always seem to ring more true.
You took a chance on loving me,
I took a chance on loving you.

If I was in jail I know you'd spring me
If I was a telephone you'd ring me all day long
If was in pain I know you'd sing me soothing songs.

Sometimes I believe in fate,
But the chances we create,
Always seem to ring more true.
You took a chance on loving me,
I took a chance on loving you.

If I was hungry you would feed me
If I was in darkness you would lead me to the light
If I was a book I know you'd read me every night

If you're a cowboy I would trail you,
If you're a piece of wood I'd nail you to the floor.
If you're a sailboat I would sail you to the shore.
If you're a sailboat I would sail you to the shore.
If you're a sailboat I would sail you to the shore.

sábado, 26 de dezembro de 2009

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Pés na terra

Anteontem o chão da minha terra tremeu,mas
não podes querer mudar o ciclo das coisas.
"Somos responsáveis por quem cativamos",
lembras-te Principezinho?

domingo, 29 de novembro de 2009

Entre duas primas:

Secreta: - Eu sou a loura!
Pimpinela: - Eu também!
Secreta: - Então, eu sou a morena!
Pimpinela: - Eu também!
Secreta: - Não! Não pode ser assim! Se eu sou a loura, tu tens que ser a morena!
Pimpinela: - Mas porquê?
Secreta: -Porque tu não podes ser a mesma que eu! Porque é que me estás sempre a copiar?
Pimpinela: Porque eu gosto muito de ti e quero ser como tu!

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Camile Paglia - Crime sexual:






“Como digo sobre as raparigas que usam apetrechos e roupas de meretriz da Madonna, se alguém faz propaganda, é melhor estar preparada para vender! (…) Chamo ao meu feminismo um “feminismo prudente” ou “esperto”, prudência ou esperteza das ruas.”

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Camile Paglia - Crime sexual:

“ A violação é um acto desesperado, uma confissão de inveja e exclusão. Todo o homem, mesmo o próprio Jesus, começa como um pedaço de tecido no ventre de uma mulher. Todo o rapaz tem de cambalear para fora da sombra de uma deusa-mãe, de quem nunca escapa completamente (…)
Violar é arrombar e entrar; mas também é o acto sangrento do desfloramento. O sexo é problemático por essência. A mulher tem. O homem quer. O quê? O segredo da vida. (…) O violador está doente por causa do conflito entre a sua dependência humilhante e a sua avidez masculina de autonomia. Ele sente-se sufocado pela mulher e todavia arrebatado e seduzido por ela. (…)
A violação seguida de morte é um roubo primitivo de energia, um beber canibalístico da força vital. (…). A violação é uma invasão de território, o solo virgem saqueado.”

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Num café...

Dois velhos conversavam, numa mesa, e olham para a televisão. Vêem os "Morangos com Açúcar”:
- Olha para isto, eles deviam era ir para a tropa!
- Pouca vergonha, com as botas em cima da cama! E aquele cabelo!
- E isto é uma exploração, que esta miúda só tem 10 anos! Devia era estar na escola!
… Silêncio, ao aparecer em cena uma “teenager” com generoso decote e mini-saia…

domingo, 8 de novembro de 2009

Crónica da mais velha profissão do mundo

“Que fazer de uma noite de liberdade, quando já se perdeu o hábito de a ter, quando não se tem ninguém a quem telefonar e dizer simplesmente: Então vamos jantar juntos? -. Quando já é demasiado tarde para ir a casa da mãe com um bolo. Que se há-de fazer senão procurar a única pessoa que não ficará demasiado espantada de nos ver surgir na noite, procurar o nosso homem com a esperança de o encontrar sozinho.”

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Little Gray Girl

I´m in a dark,
Dark place…
Oh good boy,
Please don´t pick me.
I´m really not the girl
You´re mother would like.
Don´t play me
Romeo or Superman.
I´m a dark,
Sad girl.
And I´m in a deep,
Dark place.

domingo, 1 de novembro de 2009

A verdade do amor, Vladimiro Soloviev


“1º - um amor ardente nem sempre chega a ser correspondido;
2ª – em caso de reciprocidade, uma paixão violenta acaba num acto de tragédia, sem deixar posteridade;
3º - um amor feliz, quando muito ardente, é geralmente infecundo. Nos casos raros em que um amor extraordinariamente violento deixa posteridade, esta não se distingue por carácter superior.”

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Tisbe





Fugiria contigo
Se, de bom grado, mo pedisses.
Mas não me peças para me deitar
A teu lado
Num leito de fingimento.
Estou demasiado destroçada
Por dentro
Para te deixar entrar.


sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Eclipse, Maria Teresa Horta

“No dia em que a mãe saiu de casa (…) houve um ciclone que derrubou a vida de todos.
É o Inferno, imaginou Laura.( …)Mas, aquela manhã chegara embrulhada em negror, (…) e o jogo do faz de conta da menina acabou por se transfigurar numa espécie de ficção assustadora.
“Mais valia que ela tivesse morrido”, desejara malévola, vingativa, (…). “Isso não se diz da própria mãe”, repreendeu-a a avó. (…)
E no entanto, era como se continuasse na sua obsessiva vigia voyeurista, pela porta entreaberta do quarto onde ela se arranjava, agitada (…). “Como uma garça”, lembrava-se de ter pensado.
E ela escutou esse medo, o peitinho ferido por uma dor revolvida e absurda, os lábios secos, descorados e mordidos pela lâmina dos dentes. Imóvel, como se um sortilégio a prendesse e em simultâneo a invadisse pela devassa de menina culpabilizada, desamada e esquecida por falta de merecimento. Ou de culpa merecida.
Tal como se sentira na obscuridade do corredor, a espreitar pela fresta da porta, a mãe que fazia as malas (…)
“Mais valia que ela tivesse morrido!”, pensou, quando ela entrou no carro e partiu, sem sequer acenar a despedir-se. “Mais valia que ela tivesse morrido!”, teimou com afinco, sabendo quanto esse desejo lhe era interdito, mas não se arrependendo dele.
“Mais valia que ela tivesse morrido!”, pensara, consciente da heresia, do desaforo, mas igualmente da chaga aberta no sentimento, num encantamento que já não queria para si. Um dia ouvira dizer que “mãe é mãe, mesmo se for uma silva”…Mas ela recusava a silva, o silvo, a urtiga, o espinho. Na verdade, mais do que o tornado, Laura temia o espinho, pois não havia salvação se o espinho ficasse cravado na alma, sem antídoto para o veneno daninho. Recuando diante dos picos aguçados dos cactos, ou dos picos afiados das rocas das histórias das fadas más e madrastas desalmadas, a quem nenhuma menina escapava. Rasura a intrometer-se na felicidade que o abandono destrói sem piedade de nenhuma espécie. Desconhecendo qualquer frescor capaz de atenuar a mágoa que a secura afiava, numa solidão sem apaziguamento.
“Mais valia que ela tivesse morrido” (…)e ela por ali ficava quanto podia, como se apesar de tudo esperasse um milagre no qual nunca acreditara, porque ao deixar de crer, passara a dedicar-se com empenho a disfarçar a pequena assassina que nela tomara o seu lugar.
“A tua mãe é maluca!”, irão dizer-lhe mais tarde, mas ela nunca entendia se as pessoas achavam que a sua mãe era louca ou a acusavam de leviana ou adúltera. (…)
O pai, (…) exasperado de nela reconhecer os traços da mulher que o abandonara. “Sai daqui menina, que me fazes lembrar a tua mãe!”, repeli-la-á mais tarde, ao vê-la aproximar-se em busca de carinho, como os animais.”

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

A vida, Florbela Espanca

É vão o amor, o ódio, ou o desdém;
Inútil o desejo ou o sentimento...
Lançar um grande amor aos pés de alguém
O mesmo é que lançar flores ao vento!

Todos somos no mundo "Pedro Sem",
Uma alegria é feita dum tormento,
Um riso é sempre o eco dum lamento,
Sabe-se lá um beijo de onde vem!

A mais nobre ilusão morre... desfaz-se...
Uma saudade morta em nós renasce
Que no mesmo momento é já perdida...

Amar-te a vida inteira eu não podia.
A gente esquece sempre o bem de um dia.
Que queres, meu Amor, se é isto a vida!...

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

"Feeding time"


alg
de alga,
de mar,
alg
de Algarve,
de distância,
alg
de alguém
de incerto,
alg
de Algazel,
de deserto,
alg
de algema,
de amor,
alg
de algibeira,
de vazio,
alg
de álgido,
de solidão,
alg
de algoz,
de deus,
alg
de alguém,
de ti.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Desafio da Maryland: 10 coisas que me fazem feliz!

1) Comida (seja o que for, neste âmbito não sou esquisita)!
2) A cumplicidade com as minhas irmãs e algumas amigas!
3) Encontrar, por acaso, uma cara conhecida!
4) Deitar-me depois do banho, com pijama e lençóis lavadinhos!
5) Acabar de ler um bom livro!
6) Ser elogiada pelo meu trabalho, especialmente quando me esforcei a sério!
7) Conseguir aprender uma coreografia e saber dançá-la bem!
8) Massagens nos pés!
9) Que me dêm mimos (me mexam no cabelo)!
10) O Verão (bom tempo, praia e roupas curtas!)


P.S: Lanço o desafio à menina Post-it, à senhora do gato peto e ao senhor Poema!

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Neblina

Hoje ao amanhecer
a cidade cheirava ao peixe...

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Saudades dos campos do Mondego...

"Estavas, linda Inês, posta em sossego,

De teus anos colhendo o doce fruto,

Naquele engano da alma, ledo e cego,

Que a Fortuna não deixa durar muito;

Nos saudosos campos do Mondego,

De teus fermosos olhos nunca enxuto,

Aos montes ensinando e às ervinhas

O nome que no peito escrito tinhas."

quinta-feira, 23 de abril de 2009

História de um minuto e meio

Só tenho um canal de televisão,
mas não me importa porque também só tenho um olho!

domingo, 19 de abril de 2009

Viagem ao país do amanhã

Estive quase para ser expulsa da Ordem e só agora percebi porquê.
Durante os primeiros tempos da longa viagem aguentei bem o peso da mochila que nos mandaram trazer (provisões e uns documentos que só pudemos abrir depois da chegada).
Tinha os meus companheiros para me distraírem, todos se respeitavam porque cada um tinha que carregar o seu fardo.
Até que, uma vez, apareceu no grupo um companheiro, cujo fardo parecia ser menor que os nossos e quando, gentilmente, me perguntou se podia ajudar-me a carregar o meu, eu, aliviada, acedi.
O que é certo é que, se no princípio nos dávamos bem, ao fim de algum tempo a nossa relação foi esmorecendo, pois fui obrigada pela Ordem a carregar uma mochila ainda mais pesada que a primeira e a posicionar-me no final da fila, de modo que fui perdendo o contacto com o meu companheiro.
Só estávamos juntos quando parávamos para comer ou descansar.
Na chegada, percebi o castigo da Ordem: cada um tem que carregar o seu fardo sozinho!

quinta-feira, 2 de abril de 2009

PALAVRAS DE AMOR





Oh, truly love me! Oh, murmur words of fire!" (J. Keats)
Oh, amami davvero! Oh, mormora parole di fuoco!
Oh, ámame de veras! Susúrrame palabras de fuego!
Oh, liebe mich wahrhaftig! Oh, flüstere feurige Worte!

domingo, 29 de março de 2009

História de um minuto e meio

No princípio era a palavra.
Depois vieram os beijos.
No final voltou a palavra, mas feia!

quinta-feira, 26 de março de 2009

“Enrique Martín” in Llamadas telefónicas, Roberto Bolaño

“ Un poeta lo puede soportar todo. Lo que equivale a decir que un hombre lo puede soportar todo. Pero no es verdade: son pocas las cosas que un hombre puede soportar. Soportar de verdad. Un poeta, en cambio, lo puede soportar todo. Com esta covicción crecimos. El primer enunciado es cierto, pero conduce a la ruina, a la locura, a la muerte.”

sábado, 21 de março de 2009

Parabéns à Primavera, poesia e pessoas queridas...




Chamamento


Aqui em cima destas muralhas,
rodeada por cândidas rosas,
E aspirando brisa cálida,
O meu coração aperta-se
E as minhas coxas abrasam-se,
Tal qual uma donzela na sua torre milenar.
Escorre-me por entre as entranhas
Aquela seiva,
Que deixa no corpo o aroma a mulher,
Dias sem fim.
Como se esperasse marinheiro
ou bravo cavaleiro,
Deixo-me guiar por estas fantasias…
Fingindo ser nobre Dama
Que aguarda ser lançada em lençóis de seda,
Pela primeira vez.

terça-feira, 17 de março de 2009

POEMA POSSÍVEL


O meu orgulho, Florbela Espanca

“Lembro-me o que fui dantes, quem me dera
Não lembrar! Em tardes dolorosas
Eu lembro-me que fui a Primavera
Que em muros velhos fez nascer rosas.

As minhas mãos, outrora carinhosas,
Pairavam como pombas… Quem soubera
Porque tudo passou e foi quimera
E porque os muros velhos não dão rosas!

São sempre os que eu recordo que me esquecem
Mas digo para mim: “Não me merecem …”
E já não fico tão abandonada!

Sinto que valho mais, mais pobrezinha:
Que também é orgulho ser sozinha,
E também é nobreza não ter nada!”

domingo, 15 de março de 2009

Fim da linha


Entrou no corredor e sentiu o mesmo arrepio gelado de sempre. Quer fosse Inverno ou Verão, o mesmo sentimento nauseabundo parecia congelar-lhe os ossos.
Ano após ano, de manhã à noite, tardes intermináveis percorria os corredores velhos e húmidos, as tábuas rangendo debaixo dos saltos altos, faziam um barulho incomodativo para os outros mas, para ela, era tão familiar, quase que surdo.
Caminha lentamente, arrastando-se até à sala de reuniões. Entra e vagueia com o olhar a minúscula e desconfortável sala. Ninguém para beber café, como seria de esperar. Encosta-se ao balcão, pega na chávena "liliputiana" com os seus dedos gordos e sopra insistentemente para o conteúdo líquido.
De repente, atrás do balcão, alguém suspira e ela suspira também, para dentro de si, sem ninguém ouvir. Começa mais um dia de tortura, mas sente-se resignada.
A mesma figura austera e de olhar penetrante fixa-lhe o rosto, capta-lhe a expressão e, por momentos, é como se com os seus olhos entrasse no cérebro dela e lhe apanhasse todos os pensamentos. Isso incomoda-a, sempre a incomodara. Mas agora era diferente. Nos seus 20 anos de serviço, aqueles olhos tornaram-se parte da sua vida. Tratava-se apenas de um quadro, o retrato do antigo Reitor, que ela nem chegara a conhecer. Nos primeiros tempos ficara atrapalhada, porque por mais que fugisse, por mais que mudasse de ângulo, os olhos, como se mexessem, perseguiam-na e acabavam por encontra-la, e às vezes encontravam-na dentro de si própria.
Acabou o café, rodou desajeitadamente sobre os pesados calcanhares e arrastou-se novamente pelo soalho de madeira até à sala de aula.
Sentiu o mesmo aperto de barriga, mas desta vez com menos intensidade. Tudo isto se tornara tão monótono! Entrou na sala, eles já lá estavam. Uns em pé, outros sentados em cima das mesas. Conversavam sonoramente, riam às gargalhadas e ela teve medo que fosse dela.
Quando subiu o estrado, este rangeu, abalado pelo "peso morto"e, só assim, eles deram conta que a "Miss Baleia" tinha chegado. Tinham sido avisados pela Reitoria para se comportarem, visto a debilitada senhora se encontrar em período depressivo, causado sabe-se lá porquê!... As senhoras na casa dos quarentas tinham sempre daqueles cheliques!
Tentaram acalmar-se, sentaram-se nos lugares e cochichavam só com o colega do lado. Ela, de costas para eles, começou a escrever no quadro, ouvindo os seus segredinhos e risinhos, que a faziam suar, e sentir como se estivesse prestes a ter uma quebra de tensão.
Eles gozavam com ela, riam-se dela. Do cabelo dela, da gordura dela, das roupas, dos sapatos, dos óculos…E ela estava farta! Olhou pela janela, estavam no terceiro andar de um dos velhos blocos. Havia uma janela com o vidro rachado, e o vento às vezes assobiava por ali. Mas, ela continuava a ouvi-los. Sorrateiramente, pegou na fina vara, com que costumava apontar no mapa, levantou o braço e, virando-se de repente, atirou o objecto pontiagudo para o fundo da sala, que perfurou a pupila de um dos inimigos.
Na sala ecoou o som de pele a rasgar e o grito do alvo, o resto continuou em silêncio. Todos os olhos alastrados pelas caras, e todas as bocas abertas num esgar de horror. A cara dele escorria sangue e os outros continuavam quietos.
Ela arrumou a sua pasta, passou as mãos pelo fato largo e engomado, virou as costas e saiu, fechando a porta atrás de si.
Chegou a casa, finalmente, pôs a água da banheira a correr, quente até encher.
Enfiou-se nela e apreciou cada minutinho de prazer. Vestiu um dos seus melhores fatos, penteou e secou o cabelo. Olhou-se ao espelho. O cabelo fiou demasiado "armado", fazia-a parecer mais gorda!
Pegou no livro que estava a ler, sentou-se na cadeira e esperou que a viessem buscar.

sexta-feira, 13 de março de 2009

"As cores do Outono – as folhas do “momiji” Wenceslau de Moraes




“Encantadoras florestas, encantador Outono!... E reparai: na Primavera, uma folhinha que espiga é a imagem da esperança; no Outono uma folha que cai é a imagem da saudade… Sois velho, como eu? Se o sois, haveis de convir comigo que, no campo do mistério psíquico das forças emotivas, entre a esperança e a saudade, a poesia desta última é bem mais arrebatadora, bem mais intensamente sentida. É bom rir…mas melhor é chorar, se a nossa sentimentalidade pode atingir, com a experiência da vida, o requinte supremo de se aprazer na dor! ...”

domingo, 8 de março de 2009

Blasfémia


Ela foi à Igreja.
Entrou, sentou-se e, não sabendo bem o que fazia ali, chorou.
Lamentou-se aos Deuses, deu-lhes a conhecer a sua miserável existência.
Chorou por ela, pelos seus pais, seus irmãos e pelos seus futuros filhos…
Procurou companhia na solidão dos crentes, procurou ouvidos para desabafar nas estátuas surdas dos crentes.
Ela não era crente!
Chorou, para ver se conseguia chorar tudo, aos pés de Jesus Cristo, que um dia já chorara por todos nós.
Chorou para ver se as lágrimas levavam todo o rancor, para não ter que gritar injúrias a Nossa Senhora, Mãe das Mães, mas não, de certo, Mãe da dela.
Chorou para tirar toda a fraqueza entorpecida do seu corpo, para ver se a força vinha ao de cima, para conseguir perdoar a todos os que a têm ofendido…
Ainda se lembrava do "Pai-Nosso" e, mesmo não sendo crente, recitou mentalmente essas palavras e elas pareceram-lhe a receita de um Ideal.
O sino bateu as 17h30 e foi como se ela acordasse de um sonho. Achou-se ali, ridícula figura, no meio daquelas beatas (talvez tão devotas quanto ela) e daqueles espanhóis curiosos.
Saiu dali com uma vontade enorme de urinar. E automaticamente pensou:- Que estranho! Costuma-se dizer que "quem mais chora, menos mija", confirma-se que, hoje eu serei a excepção à regra! Amén!
E rumou a casa mais aliviada!

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Teddy, in Nove Contos de Salinger


"Como é que se sai das dimensões finitas? –(…) - Quer dizer, para pôr as coisas em termos básicos, um bloco de madeira é um bloco de madeira, por exemplo. Tem comprimento, largura…
Não tem. Aí é que se engana- disse Teddy. – Toda a gente pensa que as coisas acabam num ponto qualquer. Mas não. É isso que eu estava a tentar dizer ao Professor Peet. – ( …) As coisas só parecem acabar num ponto qualquer porque a maior parte das pessoas só sabe olhar para as coisas dessa maneira – disse ele. – Mas isso não quer dizer que acabem. – (...) – Importa-se de levantar o braço um segundo, se faz favor? – perguntou.
- O meu braço? Porquê?
- Levante-o. Só um segundo. (…) "Este?", perguntou.
(…) "Que nome dá a isso?", perguntou?
- Como assim? É o meu braço. É um braço.
- Como sabe que é? – perguntou Teddy. – Sabe que lhe chamam um braço, mas como sabe que o é? Tem alguma prova de que é um braço? (…)
"Francamente, isso tresanda a sofisma do pior – disse ele, soprando o fumo. – É um braço, co’s diabos, porque é um braço. Para já, tem de ter um nome para se distinguir de outros objectos. Quer dizer, não se pode simplesmente…"
- Está apenas a ser lógico – disse Teddy, impassível.
- Estou a ser apenas o quê? (…)
- Lógico. Está-me a dar uma resposta normal, inteligente – disse Teddy. – Estou a tentar ajudá-lo. Perguntou-me como saio das dimensões finitas quando quero. Não é a lógica que eu uso, quando o faço. A lógica é a primeira coisa de que temos de nos desembaraçar. (…)
Lembra-se daquela maçã que Adão comeu no Paraíso, como vem na Bíblia? Sabe o que havia naquela maçã? Lógica. Lógica e tretas intelectuais. (…) Por isso, isto é o que eu acho, o que tem de fazer é vomitá-la se quiser ver as coisas como elas são realmente. Quer dizer, se vomitar a maçã, então já não tem mais problemas com blocos de madeira e assim. E fica a saber o que realmente o seu braço é."

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Poema Popular

Na orla do mar
Repousa a sereia,
Esplendorosa rainha das ondas,
Espera a chegada da alma que vai roubar.
Lá longe vem a navegar
Glorioso marinheiro sem par,
Traz no coração a valentia
E nos olhos a esperança sem fim.
Avista-o, o lindo demónio
E logo se põe a cantar.
Valente navegante, foge!
Não te ponhas a escutar,
Que ela é linda,
Mas maldosa,
Não te deixes enganar!
Veleja bem e depressa,
Não te esqueças da promessa,
Lembra-te da doce donzela,
Que te espera e desespera,
Prostrada numa janela,
Do outro lado do mar…



domingo, 22 de fevereiro de 2009

O MUNDO DO SEXO E OUTROS TEXTOS, HENRY MILLER


"Toda a gente quer endireitar o mundo; ninguém quer ajudar o vizinho. Querem fazer de nós homens, sem que o nosso corpo seja levado em conta. Está tudo errado. E Boris também está errado, quando pergunta a Max: - Tens parentes na América? – Conheço a deixa. É a primeira pergunta da Assistente Social. A idade, o nome e a morada, a profissão, a religião e, depois, com um ar muito inocente – o parente mais próximo, por favor! Como se não estivéssemos já fartos de pensar nisso. Como se não tivéssemos dito para connosco milhares de vezes: - Antes a morte do que…
E eles para ali sentados com um ar extremamente simpático, perguntam-nos o nome secreto, o lugar secreto da vergonha, para lá irem a correr bater à porta e despejarem toda a história – enquanto nós ficamos sentados em casa, a tremer e a suar de humilhação."

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Casinha de chocolate

Porque é que o meu quarto
Havia de ter grades?
Porque é tão feio,
Tão escuro,
Tão apertado?
Só posso chorar aqui
Aqui
Onde me fecharam,
Me gradearam,
Me roubaram a inocência.
Todos os dias
Aqui vem a bruxa,
Desdentada, desavergonhada,
Meter-me o dedo na ferida,
A ver se ainda sangra
E cortar-me as tranças,
A ver se fico feia.
Todos os dias
Luto
Com medo de
me transformar num monstro,
eu que um dia fui princesa,
fui menina.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

POEMA POSSÍVEL, Eugénio de Andrade

"Olhos postos na terra, tu virás
no ritmo da própria primavera,
e com as flores e os animais
abrirás nas mãos de quem te espera."

sábado, 14 de fevereiro de 2009

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Inocência

Toda a gente me diz: - Corre!
Mas ninguém me diz para onde!...

domingo, 8 de fevereiro de 2009

(Sátira aos HOMENS quando estão com gripe), ANTÓNIO LOBO ANTUNES

"Pachos na testa, terço na mão,
Uma botija, chá de limão, Zaragatoas, vinho com mel,
Três aspirinas, creme na pele
Grito de medo, chamo a mulher.
Ai Lurdes que vou morrer.
Mede-me a febre, olha-me a goela,
Cala os miúdos, fecha a janela,
Não quero canja, nem a salada,
Ai Lurdes, Lurdes, não vales nada.
Se tu sonhasses como me sinto,
Já vejo a morte nunca te minto,
Já vejo o inferno, chamas, diabos,anjos estranhos, cornos e rabos,
Vejo demónios nas suas danças
Tigres sem listras, bodes sem tranças
Choros de coruja, risos de grilo
Ai Lurdes, Lurdes fica comigo
Não é o pingo de uma torneira,
Põe-me a Santinha à cabeceira,
Compõe-me a colcha,
Fala ao prior,Pousa o Jesus no cobertor.
Chama o Doutor, passa a chamada,
Ai Lurdes, Lurdes nem dás por nada.
Faz-me tisana e pão de ló,
Não te levantes que fico só,
Aqui sózinho a apodrecer,
Ai Lurdes, Lurdes que vou morrer."

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

O “jujutsu” , Wenceslau de Moraes, Antologia



“O homem, ao nascer, é flexível e fraco; na morte, firme e rígido; assim com as causas: - firmeza e rigidez são as concomitâncias da vida; por este modo, aquele que confia na sua própria força, não será o conquistador.”

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Momentum

Que situação bizarra
Momento inesperado
E tão dolorosamente real…
Tão perto e tão distantes um do outro,
Não se consegue ouvir o que tua cabeça grita
Desabafa…
A madrugada acorda
Eu e tu sem sono, sem sono
Por fim chega o abandono
Deixas cair, cansado,
Um bilhete na mesa.
E um beijo saudoso:
Adeus, adeus
Até qualquer outro encontro mágico…

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Poema possível

Orla do mar, Eugénio de Andrade

“Na orla do mar
No rumor do vento,
Onde esteve a linha
Pura do teu rosto
Ou só pensamento
(e mora, secreto,
Intenso, solar,
Todo o meu desejo)
Aí vou colher
A rosa e a palma.
Onde a pedra é flor
Onde o corpo é alma.”

sábado, 24 de janeiro de 2009

ACRÓSTICO


Bestialidade
Alcóol
Canzana
Orgia



E

Abandonada
Rapto
Imaculada
Amada
Desamada
Nádega
Ebúrnea

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

POEMA POSSÍVEL


“Conheço os sete corredores da solidão
Sete rios que vão dar ao silêncio.
Onde as aves vêm beber
A breve seiva da terra
Nas águas lentas da memória.
Há também a neve,
Os cantos com crianças dentro
E uma lágrima que vai dar ao mar.
É isto a solidão.
Uma aldeia ou um barco
No cais deserto.”

Exercícios de solidão, José Oliveira

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

RECORDAÇÕES

Este frio Inverno fez-me relembrar um dos meus cheiros favoritos: o da borracha quente!
A minha botija de água quente é vermelha e tem a forma de um coração! Enquanto deito a água a ferver lá para dentro, e levo com os vapores na cara, penso e desejo que assim alguém aqueça o meu coração!...

domingo, 11 de janeiro de 2009

DOMINGOS ESCOLHIDOS

“Em seguida, o meu bom Calixto reparará numa questão que, sendo aliás secundária, tem a sua importância nos tempos que vão correndo: a questão financeira.
Terá tido que organizar um aposento reservado para a receber. Deverá para certos detalhes de toilette dispor convenientes apetrechos e serviços de toucador. Não poderá apresentar-lhe para o último toque de cabelo um pente dos de alumínio que se vendem a quinze tostões ao pé da Praça da Figueira. Deverá ter o perfume, o pó de arroz e a maquillage que ela usa, flores, um pequeno lanche leve, mas cuidadosamente servido. Fora disso, o senhor deverá vestir com maior esmero ainda, alugar automóveis fechados, mandar ramos, oferecer pieguices e inutilidades de bom gosto, frequentar chás- -concertos, dar passeios, etc., etc., meter-se, enfim, em mil despesas extraordinárias em virtude das quais as mulheres que se dão são exactamente as que custam mais caro.”

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009


quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Algazel no deserto...

Na despedida
Quero oferecer-te
estes meus dois seios,
entumescidos como romãs.
Deposito-os, um em cada mão,
olhas para eles,
não como os Velhos
olharam para os de Susana,
mas como Narciso
se olhou na água,
com espanto e admiração.
Sabes que eles contêm
o néctar vital da Humanidade!
Leva-os
e terás onde pousar a cabeça
do cansaço da viagem,
e terás onde matar a sede,
seja ela de amor, de vingança,
ou simplesmente
de viver.