quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

A morte saiu à rua num dia assim...

Em tempos conheci uma pessoa que me disse que pensava na morte todos os dias. Mas eu não, eu sou uma pessoa prática, com preocupações terrestres, eu penso na vida, Tenho tantas coisas na vida a ocuparem-me os pensamentos que, mesmo que quisesse pensar na morte, não tinha tempo para isso.

No entanto, quando a morte aparece de perto, junto de pessoas que conhecemos e, em vez de um pensamento de acontecimento futuro, se torna real e palpável, aí sim, chego a passar dias inteiros a pensar na morte.

Neste último caso em particular, tratou-se de um suicídio e, mais do que no desaparecimento da pessoa em si, penso na própria acção, no sofrimento ou coragem, tento perceber e explicar.

Era uma rapariga como eu, que conheci em tempos de Faculdade, da mesma idade e com uma família relativamente igual à minha. Podia ser eu!

Uma amiga em comum liga-me, porque tudo lhe parece ainda irreal, espera vê-la aparecer à porta de casa, mais uma vez, como em tantos fins-de-semana passados. E diz-me que precisava apenas de saber se eu estou bem, se a vida me corre de feição, porque não nos vemos há muito tempo e agora aconteceu isto e…podia ser eu!

Não, não podia! Não podia ser eu. Confesso que, muitas vezes, me apeteceu desaparecer, mas descansa, nunca era capaz de pôr uma corda ao pescoço e enforcar-me, simplesmente não era! Ainda hoje consigo agarrar-me a qualquer coisa, a querer viver e a ter curiosidade do futuro.

Eu acho que pior que a morte física é a morte por esquecimento. Talvez possa dizer que, ao longo da vida, fui uma pessoa privilegiada, não sofri quase nenhuma perda física que me afectasse de uma maneira profundamente irremediável, mas já me morreram muitas pessoas por esquecimento. Por causa de afastamentos, divergências, incompatibilidade de personalidades.

Esse tipo de morte é semelhante a um suicídio, é uma escolha, não um acaso, uma fatalidade.

Concurso de contos FNAC/Teorema

Para os que gostam de escrever contos:


FNAC Teorema. Inscrições até 31 de Janeiro.
Procurem no Google!ehehehehehe!

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Amor á moda antiga: POEMA DO NOIVO E A RESPOSTA DELA

POEMA ESCRITO POR ELE (o noivo):

Que feliz sou eu, meu amor!
Em breve estaremos casados,
o café da manhã na cama,
um bom sumo e pão torrado

Um ovo bem mexidinho
tudo pronto bem cedinho
depois irei pró trabalho
e você para o mercado

Daí você corre p'ra casa
rapidinho, arruma tudo
e corre pró seu trabalho
para começar seu turno

Você sabe que de noite
gosto de jantar bem cedo
de ver você bem bonita
alegre e sorridente

Pela noite mini-séries
cineminha bem barato
nunca iremos ao shopping
nem a restaurante caro

Você vai cozinhar p'ra mim
comidinhas bem caseiras
pois não sou dessas pessoas
que gosta de comer fora...

Você não acha querida
vão ser dias gloriosos?
Não se esqueça, meu amor,
que logo seremos esposos!


POEMA ESCRITO POR ELA
:

Que sincero meu amor!
Que oportuna tuas palavras!
Esperas tanto de mim
que me sinto intimidada

Não sei fazer ovo mexido
como sua mãe adorada,
meu pão torrado se queima
de cozinha não sei nada!

Gosto muito de dormir,
até tarde, relaxada,
ir ao shopping fazer compras
com a Mastercard dourada

Sair com minhas amigas,
comprar só roupa de marca
sapatos só exclusivos
e as lingeries mais caras

Pense bem, que ainda há tempo
a igreja não está paga
eu devolvo meu vestido
e você seu terno de gala

E domingo bem cedinho
p'ra começar a semana,
ponha aviso num jornal
com letras bem destacadas:


HOMEM JOVEM E BONITO
PROCURA ESCRAVA BEM LERDA
POR QUE SUA EX-FUTURA ESPOSA
MANDOU ELE IR À *****! !...

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

POEMA ROUBADO

"Acto de ler", de Teresa M. G. Jardim

O acto de ler reabre feridas.
Nos livros
em que isso acontece,
com frequência,

poderia ao menos haver um aviso na capa;
assim como se faz com as carteiras de tabaco,
embora se saiba que poucos deixam
de fumar
por isso.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Just the type!





- Hoje quero ser uma secretária!
-Como? Daquelas de pinho, com tamanho 170X71X76??
- Não! Daquelas de cabelo apanhado com um lápis e de óculos na ponta do nariz!

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Poema de uma funcionária cansada


Ela
levanta-se às 8h da manhã,

para entrar às 10.

Ela
prepara o Tupperware
com o almoço para levar,

porque não tem tempo de comer em casa.

Ela
anda 10 minutos a pé,

até à paragem de autocarro,

mais 20 minutos de autocarro,

mais 20 minutos a pé,

para chegar ao trabalho,

porque não tem carro.

Ela
passa 8h em pé,
a servir café
às pessoas
que passam no corredor,
porque não conseguiu emprego na área dela.

Pessoas que nem sequer imaginam

o esforço que

Ela
faz para poder trabalhar.

As pessoas só fazem um esforço (mínimo)

quando é por prazer, não para trabalhar.
"Quem corre por gosto não cansa", diz-se.
Mas

Ela

corre para trabalhar.

Podem pensar, talvez
Ela
goste de trabalhar!

Não, ninguém gosta de trabalhar,

é uma obrigação
e ninguém gosta de obrigações!

Ela

pensa em voltar para a praia...

Lá,

Ela
tem um quase Príncipe Encantado,
num quase Palácio de Fadas,

num quase
"viveram felizes para sempre..."

domingo, 26 de setembro de 2010

Rifa-se um coração, Clarice Lispector


"Rifa-se um coração Rifa-se um coração quase novo. Um coração idealista. Um coração como poucos. Um coração à moda antiga. Um coração moleque que insiste em pregar peças no seu usuário. Rifa-se um coração que na realidade está um pouco usado, meio calejado, muito machucado e que teima em alimentar sonhos e, cultivar ilusões. Um pouco inconseqüente que nunca desiste de acreditar nas pessoas. Um leviano e precipitado coração que acha que Tim Maia estava certo quando escreveu... "...não quero dinheiro, eu quero amor sincero, é isso que eu espero...". Um idealista...Um verdadeiro sonhador... Rifa-se um coração que nunca aprende. Que não endurece, e mantém sempre viva a esperança de ser feliz, sendo simples e natural. Um coração insensato que comanda o racional sendo louco o suficiente para se apaixonar. Um furioso suicida que vive procurando relações e emoções verdadeiras. Rifa-se um coração que insiste em cometer sempre os mesmos erros. Esse coração que erra, briga, se expõe. Perde o juízo por completo em nome de causas e paixões. Sai do sério e, às vezes revê suas posições arrependido de palavras e gestos. Este coração tantas vezes incompreendido. Tantas vezes provocado. Tantas vezes impulsivo. Rifa-se este desequilibrado emocional que abre sorrisos tão largos que quase dá pra engolir as orelhas, mas que também arranca lágrimas e faz murchar o rosto. Um coração para ser alugado, ou mesmo utilizado por quem gosta de emoções fortes. Um órgão abestado indicado apenas para quem quer viver intensamente contra indicado para os que apenas pretendem passar pela vida matando o tempo, defendendo-se das emoções. Rifa-se um coração tão inocente que se mostra sem armaduras e deixa louco o seu usuário. Um coração que quando parar de bater ouvirá o seu usuário dizer para São Pedro na hora da prestação de contas: "O Senhor pode conferir. Eu fiz tudo certo, só errei quando coloquei sentimento. Só fiz bobagens e me dei mal quando ouvi este louco coração de criança que insiste em não endurecer e, se recusa a envelhecer" Rifa-se um coração, ou mesmo troca-se por outro que tenha um pouco mais de juízo. Um órgão mais fiel ao seu usuário. Um amigo do peito que não maltrate tanto o ser que o abriga. Um coração que não seja tão inconseqüente. Rifa-se um coração cego, surdo e mudo, mas que incomoda um bocado. Um verdadeiro caçador de aventuras que ainda não foi adotado, provavelmente, por se recusar a cultivar ares selvagens ou racionais, por não querer perder o estilo. Oferece-se um coração vadio, sem raça, sem pedigree. Um simples coração humano. Um impulsivo membro de comportamento até meio ultrapassado. Um modelo cheio de defeitos que, mesmo estando fora do mercado, faz questão de não se modernizar, mas vez por outra, constrange o corpo que o domina. Um velho coração que convence seu usuário a publicar seus segredos e a ter a petulância de se aventurar como poeta."

O Meu Coração; Anaquim

Meu coração é um viajante
Que se entrega num instante
Por ai a onde for

Acha que sabe bem o que eu preciso
Prende-se a qualquer sorriso
Sem motivos de maior

O meu coração é inocente
Pensa que a vida é um mar de rosas
Mas eu que vi espinhos em toda a gente
Afasto essas certezas duvidosas

O meu coração é um bicho muito estranho
Que se esconde e não responde a quem chamei
Alergico ao exterior vive na toca
Onde se esconde e sofoca por não ver entrar o ar

O meu coração vive trancado
Diz que atirou a chave ao mar
E eu que a procurei por todo o lado
Só me resta assim continuar

Coração triste
Não me arrastes em teu passo
Meu corpo insiste em decidir o que faço
Se eu vir que sim ele diz que não
Eu vou bem sem coração
Entre morrer de amor e viver nesta prisão

Coração louco
Não me imponhas o teu vicio
Que a pouco e pouco vou cedendo ao sacrificio
É que eu sei bem que se acordares
E procurares por ai
Encontras outro coração para ti

Já encontraste?
Demoras muito ou quê?

O meu coração é uma criança
Ansiosa pela dança de quem lhe estender a mão
Mas este é caprichoso e inclusivo
É na lista compulsivo que não chega à conclusão

O meu coração segue as novelas
Jubila com as falas das actrizes

O meu carrega histórias de mazelas
E afasta-se desses finais felizes

Coração triste
Não me arrastes em teu passo
Meu corpo insiste em decidir o que faço
Se eu vir que sim ele diz que não
Eu vou bem sem coração
Entre morrer de amor e viver nesta prisão

Coração louco
Não me imponhas o teu vicio
Que a pouco e pouco vou cedendo ao sacrificio
É que eu sei bem que se acordares
E procurares por ai
Encontras outro coração para ti

Falei primeiro a bem por ser assunto de respeito
Mas não deu ouvidos perseguiu naquele jeito

Mudei para as ameaças
Tentei que usasse a razão
Mas é palavra estranha pro meu pobre coração

Farta desses maus tratos fiz as malas e parti
E logo te encontrei com o mesmo modo que eu sofri
A mesma frustração
A mesma pose o mesmo olhar
E em teu toque senti no meu corpo a trupulsar

Juntos rimos de tudo
Só chorámos nas novelas
Fingimos ser crianças e dançámos como elas
Perdemos noite e dia entre histórias e canções
Juntámos nomes, gostos e moradas
E quase sem dar por nada
Encontrámos corações

Coração triste
Não me arrastes em teu passo
Meu corpo insiste em decidir o que faço
Se eu vir que sim ele diz que não
Eu vou bem sem coração
Entre morrer de amor e viver nesta prisão

Coração louco
Não me imponhas o teu vicio
Que a pouco e pouco vou cedendo ao sacrificio
É que eu sei bem que se acordares
E procurares por ai
Encontras outro coração para ti

Hoje é dia do CORAÇÃO! Tratem-no bem!

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Sexta-feira à noite, Maria Colasanti

os homens acariciam o clitóris das esposas
com dedos molhados de saliva.

O mesmo gesto com que todos os dias

contam dinheiro papéis documentos
e folheiam nas revistas
a vida dos seus ídolos.

Sexta-feira à noite
os homens penetram suas esposas
com tédio e pénis.
O mesmo tédio com que todos os dias
enfiam o carro na garagem
o dedo no nariz
e metem a mão no bolso
para coçar o saco.

Sexta-feira à noite
os homens ressonam de borco
enquanto as mulheres no escuro
encaram seu destino
e sonham com o príncipe encantado.

domingo, 12 de setembro de 2010

sábado, 11 de setembro de 2010

O fio da fábula, Jorge Luis Borges

O fio que a mão de Ariadne deixou na mão de Teseu (na outra estava a espada) para que este se aventurasse no labirinto e descobrisse o cen­tro, o homem com cabeça de touro ou, como pretende Dante, o touro com cabeça de homem, e o matasse e pudesse, já executada a proeza, de­cifrar as redes de pedra e voltar para ela, para o seu amor.

As coisas aconteceram assim. Teseu não podia saber que do outro la­do do labirinto estava o outro labirinto, o do tempo, e que num lugar já fixado estava Medeia.

O fio perdeu-se, o labirinto perdeu-se também. Agora nem sequer sabemos se nos rodeia um labirinto, um secreto cosmos ou um caos oca­sional. O nosso mais belo dever é imaginar que há um labirinto e um fio. Nunca daremos com o fio; talvez o encontremos e o percamos num acto de fé, num ritmo, no sono, nas palavras que se chamam filosofia ou na mera e simples felicidade.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

"eu sei que vou chorar a cada ausência tua, eu vou chorar,mas cada volta tua há-de apagar o que esta ausência tua me causou!"

"A virgem e o cigano" D. H. Lawrence

" Esta tarde, sentia intensamente que aquela era uma casa para si: o acampamento cigano, o fogo, o banco, o homem com o martelo, a velha encarquilhada.
Fazia parte da sua natureza ter destes ataques de ardente desejo por um qualquer lugar dela conhecido; de estar num certo lugar, com alguém que de algum modo significasse "lar" para si. Esta tarde, era o acampamento de ciganos. O homem vestido de verde fazia desse acampamento o seu lar. Estar onde ele estava era estar num lar. As carroças, os garotos, as outras mulheres: tudo era natural, era o seu lar, era como se tivesse lá nascido."

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Mudanças

Enquanto andava à caça de emprego na internet, porque estava desempregada há quase dois meses, um amigo pediu-lhe um conselho.
Ele tinha duas propostas de emprego e não sabia por qual decidir-se. Uma era aliciante pelo dinheiro, mas implicava sair do país, outra era aliciante, porque podia dar-se ao luxo de continuar no seu cantinho e na sua vida-vidinha.
Ela disse-lhe: "Vê lá o que é melhor para ti!"
Depois de dizer aquilo sentiu-se estúpida de ter dito apenas aquilo! Isso vindo de uma pessoa que não conseguia decidir o que queria da vida há já dois meses até parecia gozo!
O Verão estava a acabar, mas ela ainda queria aproveitar mais um pouco de Sol...

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

"O poder da dúvida" by o sexo e a Cidália

"Às vezes penso nos namorados que tive e como a minha vida teria sido diferente com cada um deles. Já pensaram nisto?
Já pensaram que, ao ficarmos com determinada pessoa, a nossa vida seguiria outro rumo? Ou seremos nós, a nossa identidade, mais fortes que tudo o resto?

Lembrei-me do Arnaldo porque me reencontrei com ele há uns tempos. Lembrei-me que, na altura em que o conheci, eu era uma miúda cheia de manias (sim, eu devia ser insuportável, felizmente com a idade tornei-me mais doce) e, perante a ternura dele, recuei. Lembro-me dos desenhos que me fez e dos beijos que demos. Há coisas boas guardadas na nossa memória ao fim de muitos anos. Nós mudámos, mas a memória encarrega-se de nos lembrar o que fomos, o que já não temos. Ao Arnaldo não sei se alguma vez pedi desculpa, não sei se ele se apercebeu de quem eu era, o que queria ser. Felizmente nunca quis ser outra coisa senão boa pessoa. Às vezes temos sorte em ter pais bons que nos ensinam o essencial. Eu aprendi com eles o principal e aperfeiçoei o resto.

Ao reencontrar o Arnaldo fiz uma árvore – não dessas tretas familiares em que todos querem descobrir descendência famosa ou nobre, mas das pessoas que beijei, do toque permitido. No tempo em que comecei a namorar, «toque» era só uma palavra romântica, hoje é muito mais do mundo das telecomunicações… «Dás-me um toque?»

Na árvore dos meus namorados não faltam braços fortes e ramificações secundárias. São os braços fortes que me podiam ter feito diferente mas, se quiserem, nos secundários há pormenores determinantes. Pensem nos vossos namorados e namoradas todos e vejam-se a vocês próprios, encontrem-se em atitudes que na altura pareciam inconsequentes e que vieram ditar o vosso futuro. Ou se calhar estou a exagerar e os namorados são só uma escolha que nos permite estender o nosso ego.

Por causa do Arnaldo vi-me mais de vinte anos depois em frente ao espelho a pensar «porque eras assim? Como reagias daquela forma?», e não é que encontre respostas, mas pensar já é uma forma amiga de seguir em frente na busca da perfeição.

Se eu tivesse continuado com o Arnaldo, o Fernando, o Carlos ou o Tiago, dificilmente estaria hoje aqui. E «aqui» é um sítio no deserto. Estou isolada numa casa, num dia cinzento. Estes dias são perfeitos para pensar no passado. A luz demasiado clara dos dias de Verão ofusca o pensamento e as memórias. Se eu tivesse ficado com um deles, onde estaria agora? Quem teria sido? Não é curioso? Terão sido as batalhas seguintes que me fizeram diferente? Poderia eu ter tido uma vida mais pacata sem dar resposta às muitas curiosidades que tinha dentro de mim?

Como se vive uma vida inteira quando temos perguntas constantes dentro de nós e não lhes damos respostas? É que por mais que tentemos apagar a dúvida, ela só pode crescer dentro de nós. O que fiz foi ter seguido o que ouvia. Se quiserem, dediquei a minha vida a ouvir as perguntas que tinha na minha cabeça e a dar-lhes respostas. Aqui fica um pedido de desculpas a todos os namorados, uma vez que tive de seguir em frente. Haverá algum que do outro lado pense «como teria sido a minha vida se eu ainda estivesse com ela? Se eu tivesse escolhido ficar com ela?» Às vezes, mais do que a dúvida é o poder da escolha que nos mói o pensamento. Mas lá está, na escolha já está a dúvida.

O Arnaldo, ouvi dizer, é um homem muito introspectivo. Já o era na altura mas os anos acentuaram-lhe o silêncio. Se me reencontrasse fisicamente agora com ele, havia de querer saber quem era na altura. Se esta ideia que tenho, de ter sido uma miúda caprichosa, correspondia à ideia que guardou de mim.
Sempre que pudermos, devemos ir ao encontro de velhos amores. A memória que guardam de nós pode ajudar-nos a perceber quem somos.

Oh God, make me good, but not yet!"

terça-feira, 24 de agosto de 2010

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Os escritores e o sexo, por Paulo Nogueira


"Acaba de ser publicado um livro que desfaz o mito segundo o qual escritores e escritoras têm uma vida sexual escaldante. Between the Sheets (Entre os Lençóis, em português), de Lesley McDowell, conta fracassos amorosos que por vezes tiveram consequências trágicas: se Simone de Beauvoir angariava amantes para Sartre e Hilda Doolitle casou com Ezra Pound mas gostava de mulheres, Sylvia Plath meteu a cabeça no forno, ligou o gás e matou-se."


quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Muito, pouco ou nada...

A Princesa do deserto alentejano

Quem lê a Poesia de Florbela Espanca fica com a ideia de que esta mulher foi mal amada e que nunca chegou a encontrar o amor.
Antes pelo contrário ela amou "perdidamente" e foi amada por vários homens!
Um dos grandes motivos da sua eterna tristeza foi nunca chegar a ser reconhecida pelo Pai, facto que só aconteceu 19 anos após a sua própria morte; o outro foi a incapacidade de ter filhos e, mais tarde a morte de seu irmão mais novo, pelo qual nutria um amor de mãe.
Chegou a casar e contraiu matrimónio várias vezes.A Poetisa afirma que sempre que casou, casou por amor.
O primeiro marido foi um jovem Professor e durou cerca de 8 anos. Viveram em Évora e foi aí que Florbela descobriu a sua vocação para a Poesia. O início dos convívios na capital, porém, veio romper com esse casamento idílico.
O segundo marido foi um alferes de artilharia da Guarda Republicana de nome António Guimarães e durou apenas cerca de 2 anos. Viveram grande parte do casamento no Porto,dentro do quartel do regimento da Guarda Republicana, o que levou ao fim da união, causado pelo afastamento social e cultural da Poetisa e também pelos abusos psicológicos e físicos que o marido nela infligia.
O terceiro casamento foi com o Médico Mário Lage, que cuidou dela durante uma depressão que tomou conta dela aquando o segundo divórcio. Viveram em Matosinhos, na altura um meio bastante rural, facto que levou depois à infelicidade de Florbela.
Incompreendida pela Sociedade e pela própria Família, deixou-se levar por uma última depressão. Nem o amor do marido conseguiu arrancá-la daquele estado, morreu de causa natural aos 36 anos, diz-se, morreu de tristeza.

"Uma vida trágica para quem só soube escrever sobre a tragédia da vida. Florbela Espanca, uma das Poetisas mais conhecidas da Literatura Portuguesa, foi uma mulher invulgar, resignada a uma existência infeliz e atormentada. Sabia escrever como ninguém, mas tudo o que ela queria era amar e ser amada. Viveu à procura do Amor. Por falta dele morreu."

segunda-feira, 19 de julho de 2010

give me one reason...........

Poema roubado

Versos de Adília Lopes

"Preciso que
me reconheçam
que me digam Olá
e Bom dia
mais que de espelhos
preciso dos outros
para saber
que eu sou eu"

sábado, 26 de junho de 2010

terça-feira, 22 de junho de 2010

"A mulher destruída", Simone de Beauvoir

"Não sou o tipo de mulher a quem se mente. Orgulho imbecil. Todas as mulheres se julgam diferentes; todas pensam que certas coisas lhes não podem acontecer e todas elas se enganam.
***
Noellie empresta-lhe livros; arma em intelectual. Concordo que não conheço tão bem como ela a literatura e a música modernas. Mas, no conjunto, não sou menos culta, nem menos inteligente do que ela. Maurício escreveu-me uma vez que acreditava mais no meu julgamento do que em qualquer outro porque era, ao mesmo tempo, esclarecido e ingénuo. Procuro exprimir exactamente o que penso, o que sinto: também ele; e nada nos parece mais precioso do que esta sinceridade.
***
Mencionou cinco filmes que merecem ser vistos. Impossível. Houve tempo em que podia ir sozinha ao cinema, ou mesmo ao Teatro. É que não estava só. Havia em mim e à minha volta a sua presença. Agora, quando estou só, digo-me: - Estou só. - E tenho medo.
***
Sei que hei-de fazer um movimento. A porta abrir-se-á e poderei ver o que está para além dela. É o futuro. A porta do futuro vai abrir-se. Lentamente. Implacavelmente. Estou no limiar. Existe somente uma porta e o que me espia por trás. Tenho medo. E não posso chamar ninguém por socorro. Tenho medo."

sexta-feira, 11 de junho de 2010

"Canção desnaturada"

Em terra de cegos...

Aquela porta estava sempre aberta para todas as pessoas poderem entrar. Dava para a sala da casa que tinha um grande relógio de pé, onde Ela aprendera a ver as horas. O relógio batia as horas e Ela contava 1, 2, 3...e olhava para cima, para a posição dos ponteiros.
Ela, todos os dias, tentava entrar sem ser ouvida, pé ante pé, pelas divisões escurecidas, mas nunca conseguia!
- Quem está aí? - perguntava a dona da casa, do seu quarto de doente.
- É a neta da Ti'Aida! - dizia Ela, baixinho, desiludida.
Mas como é que a D. Beatriz me consegue ouvir a entrar, se eu não faço nenhum barulho!? - pensava Ela. Esta ingénua criatura não sabia que os cegos tinham a audição mais apurada, ninguém lhe tinha dito! Outra coisa que ninguém lhe dizia, era o porquê da casa estar sempre tão escura, sempre com as janelas fechadas. Se a velha dona não podia ver, que diferença fazia? Era como se a casa se tivesse tornado tão doente como a dona!
Depois de ser descoberta, aquela visita perdia a graça e Ela já queria ir para casa outra vez!Mas, lá se sentava na cadeira, junto da cabeceira da cama e ia respondendo a todas as perguntas .
- A minha avó já aí vem com o comer, D. Beatriz. - dizia por fim.
Depois a avó d'Ela chegava com o almoço e dizia-lhe:
- Oh cachopa, fica aí a fazer companhia à Tiz enquanto ela come, que eu vou dar uma arrumadela à cozinha!
E Ela ficava. A velha vizinha era ajudada a ficar apoiada de lado, para poder comer sozinha. A comida era sempre cortada aos bocados, como para bebé, e vinha num prato fundo dentro de um tabuleiro, com uma colher. A velha entrevada tinha um buço espesso e, na maior parte das vezes, a gordura da comida ficava lá presa, então ela limpava-se com um pano de cozinha.
Enquanto a velha dona da casa comia, Ela observava-a e tentava pôr em prática mais uma das suas experiências. De vez em quando, roubava uma folha de alface e metia-a na boca, rapidamente. Fazia isto, não porque tivesse fome, mas apenas porque podia, porque a outra não a via a fazer aquilo. Era um desafio, um desafio à sua destreza infantil e um desafio à cegueira da outra.
Muitas vezes, a velha inválida lhe dizia: - Quando fores mais crescida, mando a costureira fazer-te um fato de empregada à medida, daqueles de bom tecido, com renda na gola e nos punhos e depois vens servir cá para casa!
E a pequena ingénua ficava a imaginar-se assim vestida, de cabelo num apanhado rígido, como as bailarinas russas, com aquela farda austera, que no seu pensamento transmitia respeito.
Sem saber que anos mais tarde a velha morreria, depois a avó morreria, ela mudaria de casa, de bairro, de escola, de família e de planos futuros.
E hoje Ela sorri do seu pequeno pensamento de menina pobre.

v.

domingo, 16 de maio de 2010

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Próxima paragem

Gosto de me sentar
nas estações de comboios
e esperar...
Gosto de ver as pessoas.
São sempre mais os encontros que as despedidas!

segunda-feira, 3 de maio de 2010

outra nota pela post-it

He and She and Angels Three

Ruthless hands have torn her
From one that loved her well;
Angels have upborn her,
Christ her grief to tell.

She shall stand to listen,
She shall stand and sing,
Till three winged angels
Her lover’s soul shall bring.

He and she and the angels three
Before God’s face shall stand;
There they shall pray among themselves
And sing at His right hand


Lizzie Siddal

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Uma nota pela Post-it

Spring’s Bedfellow


Spring went about the woods to-day,

The soft-foot winter-thief,

And found where idle sorrow lay

‘Twixt flower and faded leaf.

She looked on him, and found him fair

For all she had been told;

She knelt adown beside him there,

And sang of days of old.

His open eyes beheld her nought,

Yet ‘gan his lips to move;

But life and deeds were in her thought,

And he would sing of love.

So sang they till their eyes did meet,

And faded fear and shame;

More bold he grew, and she more sweet,

Until they sang the same.

Until, say they who know the thing,

Their very lips did kiss,

And Sorrow laid abed with Spring

Begat an earthly bliss.

(william morris)

domingo, 11 de abril de 2010

sexta-feira, 2 de abril de 2010

quinta-feira, 25 de março de 2010

Poema Possível

Pousa a tua cabeça dolorida
Tão cheia de quimeras, de ideal,
Sobre o regaço brando e maternal
Da tua doce Irmã compadecida.

Hás-de contar-me nessa voz tão qu’rida
A tua dor que julgas sem igual,
E eu, pra te consolar, direi o mal
Que à minha alma profunda fez a Vida.

E hás-de adormecer nos meus joelhos…
E os meus dedos enrugados, velhos,
Hão-de fazer-se leves e suaves…

Hão-de pousar-se num fervor de crente,
Rosas brancas tombando docemente,
Sobre o teu rosto, como penas de aves…

Florbela Espanca - Suavidade