Era a primeira vez que viajavam de carro. Estavam com sorte quanto ao tempo, céu nublado! Faziam a viagem na maior hora de calor de um dia de Verão. Estava abafado e ameaçava chover. Seis horas era o previsto para a viagem.Ouviam música, falavam e às vezes ela lia-lhe contos em voz alta, até começar a enjoar.
Ela trazia a mão de fora da janela para sentir a densidade do ar. Passaram pelo Alentejo. Ela tinha o sonho simples de trabalhar para uma empresa, através do computador, e fixar-se num desses lugares. Nessa terra esquecida, nessa terra de ninguém. Seca, árida, deserta. Esquecer-se no deserto.
Pediu para ele parar, ele julgou que ela enjoara. Encostou. Ela abriu a porta do carro, descalçou as sandálias pelos calcanhares, começou a andar, descalça, por aquele campo de terra vazia, despiu o vestido pela cabeça, tirou a roupa interior e começou a correr, de braços abertos.
Nesse momento, principiou a chover, aquela chuva parca, mas de pingos grossos. Que cheiro a terra molhada! E os pés a enterrarem-se na humidade da Natureza...
Ele deslizara para o lugar do lado e cruzara os braços por cima do vidro da janela, apoiando o queixo. Observava-a. Gostaria de pertencer à terra, como ela, ser a terra como ela. Contemplou a figura, na fragilidade da sua nudez, que se tornava cada vez mais pequena. Teve medo de a perder para a linha do horizonte.
2 comentários:
"A terra desposa-se a si mesma"... Ele, de facto, SÓ pode olhar...
;)
Eu se fosse a ele, espancava a linha do horizonte
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