“ Fiquei a olhar durante algum tempo para a cabra e para os amantes absortos, e depois fui até ao cais, onde um velho marinheiro idiota, de barba branca, estava sentado com os pés dentro de água. O seu olhar fixo num Argos distante era o de um homem que esperava avistar o velo de ouro.
Na sua solidão, no seu sonho de amor ou de ausência de amor, os que se perdem vão sempre ter à beira de água. Na imensa deriva da noite, o estertor da agonia dos aflitos é abafado pelo rumor da mais pequena ondulação. O espírito, vazio de tudo, excepto do rumor das ondas, serena. Rolando com as águas, a alma até então atormentada desdobra as asas.
As águas da terra! Que nivelam, sustentam, reconfortam! Águas baptismais! A seguir à luz, são elas o elemento mais misterioso da criação.
Tudo passa com o tempo. As águas ficam.”
1 comentário:
Fez-me lembrar, este teu post, um conto da Clarice Lispector que dizia algo, mais ou menos, como - o mar e a mulher, as duas coisas mais misteriosas e incognosciveis do mundo... eheh...
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