TERCEIRO ACTO
Daí a dois dias. O cenário é o mesmo do primeiro acto. O Honrado chefe de Família está sentado no chão por ter vendido há muito a mobília a poco e pouco. Deixa cair a fronte pensativa nas mãos febris e descarnadas.
CENA I
O honrado chefe de Família e os seus botões
O Honrado chefe de Família: Adivinho que não poderei resistir a este desgosto. Sinto avizinhar-se a passos gigantescos a terrível comoção cerebral, que me vai libertar deste martírio. Acaba-se hoje o dinheiro cá em casa. É o terceiro dia. Nada nos resta que vender ou empenhar. Não tenho quem me valha nesta aflição. Sou incontestavelmente um cavalheiro muitíssimo encravado. Toda a minha vida fui um homem de bem, cumpri sempre os meus deveres, nunca abusei dos meus direitos e amanhã não terei que dar de trincar aos meus filhos. Se, ao menos, fosse pelicano, arrancaria do peito a carne que os alimentasse. Mas não...( Apalpando-se) Não há maneira de sacar desta minha plástica nem sequer meio bife do lombo. Só tenho a pele e o osso...( Cambaleando) É a primeira vertigem...É a morte que se aproxima...( Indo à porta) Meus filhos!...
Os botões: ( Uns para os outros) E quantos dramas semelhantes haverá por esta Lisboa!
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