domingo, 16 de março de 2008

"Olhos azuis, cabelo preto", Marguerite Duras

"Ele aproxima-se dela. Pergunta-lhe de que descansa, que cansaço é aquele. Sem responder, sem mesmo olhar, ela levanta a mão e acaricia-lhe o rosto por cima dela, os lábios, o contorno dos lábios, ali onde gostaria de beijar; o rosto resiste, ela continua a acariciar, os dentes serram-se, o rosto recua. E a mão dela cai.

Ele pergunta se é a esse contrato que ele fez da presença dela perto dele que ela chama sono. Ela hesita e diz que talvez, sim, que é assim que ela deve ter entendido a coisa, ou seja, que ele desejava tê-la perto mas escondida pelo sono, com o rosto anulado pela seda preta como se fosse por outro sentimento.

Ele ri, confuso por ter percebido a que ponto a conivência entre os dois era grande. Depois bruscamente vê que ela já não ri, que o deixa, que o olha como se ele fosse adorável, ou estivesse morto. E depois vê que ela regressa. Ainda tem no olhar um brilho de perdição que acaba de atravessar na presença dele.
Não falam daquele medo. Ela sabe menos do que ele que se passou qualquer coisa.Ficam muito tempo longe um do outro, tentando reencontrar o que aconteceu quando se olharam, esse terror de que ainda não tinham nenhum conhecimento.

Ela diz que sempre que ele fala em se ir embora ela ouve os cães da morte na cabeça e à volta da casa.
Ela pergunta-lhe: Para o estrangeiro, fazer o quê? Ele não sabe, talvez nada, talvez um livro. Talvez encontrar alguém. Espera como se fosse por um último encontro antes de morrer.
Ela dorme. Ele fala-lhe enquanto ela dorme.

3 comentários:

Post-It disse...

Ó meu Deus,
Ó minha nossa senhora do carmo,
Ó meu anjinho da guarda,
Ó vocativos do raio!
Posso gritar?
AAAAAIIIIII!!!!

Ela disse...

Bem sei que hove partes intragáveis no livro, mas o que sobrou de bom, que foi isto, até me agradou!Que grito foi esse?!Desespero ou Deja vou!?

Post-It disse...

É mais raiva e dejá-vu.
Impotência...