terça-feira, 18 de março de 2008

Jakob von Guten

"Aceito sem reservas, tenho a firme convicção de que os regulamentos tornam a vida de prata, talvez mesmo a dourem, por outras palavras, trazem-lhe mil encantos. Pois o que acontece com o riso proibido e irresistível acontece também com todas as outras coisas e prazeres. Não poder chorar, por exemplo, apenas aumenta o choro. Abdicar do amor, sim, é já amar. Quando não posso amar, amo dez vezes mais. Tudo o que é proibido vive cem vezes mais, aquilo que deveria estra morto, vive com mais vida. E é o mesmo para coisas pequenas ou grandes."
"Se alguma vez, mesmo que tenha sido uma única vez, pequena e quase a desaparecer, me dirigi a si com presunção, em vez de preso pelos sentimentos e correntes da mais pura veneração, então hei-de odiar-me e perseguir-me, hei-de enforcar-me com um braço, envenenar-me com os venenos mais mortais, hei-de cortar o pescoço com facas, não importa quais. (...) Digo a verdade e espero que compreenda que estas palavras nada têm de bajulação. Odeio todas as perspectivas futuras e detesto a vida. (...) Sempre que lia um livro, era a si que lia, não ao livro, a Fräulein era o livro. Sim, é verdade. Muitas vezes me portei mal. (...) E foi sempre tão boa para mim. Demasiado boa para esta cabeça teimosa. (...) Não, não quero sair para a vida, para o mundo. (...) Perturba-a que assim fale? Eu, eu fico contente por falar assim."
" Aqui estamos sempre à espera de alguma coisa, e isso enfraquece. E proibimo-nos sempre de esperar e de estar atentos, porque não é permitido. E também isso consome forças. Muitas vezes a Fräulein abeira-se da janela e fica muito tempo a olhar para fora como se vivesse já noutro lugar."
"Mas eu também prezo muito a tristeza, tem muito, muito valor. A tristeza educa. (...) São tão breves as despedidas. Queremos dizer alguma coisa mas esquecemos o que nos passou pela cabeça e acabamos por não dizer nada ou então apenas uma tolice qualquer. Despedirmo-nos de alguém ou alguém despedir-se de nós é terrível. Estes momentos sacodem as nossa vidas e sentimos presentemente que não somos nada. Despedidas apressadas são pouco graciosas e despedidas longas são insuportáveis. O que fazer? Bom, dizemos qualquer coisa demasiado simples."
"Pensaríamos no Imperador, no General, muito vagamente, mas ainda assim o imaginaríamos, e isso, seria para nós um consolo. (...) Depois chegariam as recordações, pouco nítidas, e porém de uma nitidez excessiva. Devorariam o meu coração como as feras se lançam à presa bem-vinda, levar-me-iam para o aconchego da casa. (...) A dor quase me levaria à loucura, mas eu continuaria a marchar. (...) Não amaldiçoaria a vida porque a vida já há muito que seria demasiado abominável para ser amaldiçoada, não sentiria dor, porque a dor já há muito teria sido usada e gasta pelas minhas emoções."
Robert Walser

1 comentário:

Post-It disse...

E agora fiquei curiosa!