"Como mãe, o sentimento da maternidade absorve-a inteira; não se compreende maior dedicação, maiores desvelos; é um instinto de ave, de rola passando os dias imóvel, dando calor à prole. O bebé é rei neste país. Ocupando-se metade do povo na indústria das quinquilharias, dos bonecos, dos bolos, do completo tesouro das crianças, e a outra metade, pelo menos na tarefa de fazê-las, parece indiscutível que a grande preocupação japonesa seja o bebé; o ar despótico do pequenino pimpão , todo em galas de sedas e enfeites, mesmo entre a gente pobre fala por si.
Nunca vi uma mamã bater no filho, ralhar com ele; os dedos finos só se estendem em afagos; e as bocas, junto das boquinhas, deliciam-se no beijo indígena, sorvendo os hálitos; é ele que ralha, que exige, que ordena, e que é obedecido. Os peitos brancos, ligeiramente pendentes, de cabra criadeira, oferecem-se solícitos, não sei por quantos anos; por fim, o leite deixa de ser um alimento, é uma carícia, um doce hábito, um tributo humildoso, que o garoto vem reclamar em grandes berros, indo depois saciar-se em frutos e pastéis. Numa carruagem de caminho-de- ferro, onde melhor se apanha em flagrante o viver íntimo, não é ocioso observar como a mãe vai julgando seu o espaço: aqui senta-se ela, defronte o seu menino, sobre fofas colchas e almofadas trazidas para o caso: segue-se o estendal dos embrulhos com bolos, com maçãs, com cavalos de pau, com cornetas de latão; e é um nunca acabar de passeios ora dando o peito sem recatos, ora conchegando as roupinhas, ora inventando diversões; e que os vizinhos se arranjem como possam, uns de encontro aos outros, conquanto que sobre campo para o rei, a quem todos devem obediência, o rei que além se vai rojando pelos bancos e molhando as fraldas..."
Wenceslau de Moraes, Antologia
Sem comentários:
Enviar um comentário