domingo, 7 de dezembro de 2008

DOMINGOS ESCOLHIDOS

"Mas vamos agora à página Dever. Aqui amigo Calixto e louro, é que são elas, como dizia Napoleão ao ver surgir Blucher em Waterloo.
Passarei em claro os dois primeiros meses, porque nesses o meu amigo não terá mãos a medir para escriturar a página Haver e nem pelo espírito lhe passará a existência da outra.
Mas entremos no terceiro mês, em que você começa a sentir a tentação de pôr a sua escrita a limpo.
Em primeiro lugar, o meu caro Calixto agora é livre. Vai onde quer, levanta-se à hora que lhe apetecer, veste-se como o seu gosto indica, tem os seus hábitos certos, goza enfim dum bem altamente apreciável e que, como todos os bens, de resto, só apreciamos quando o perdemos: a liberdade. Há-de reparar, depois, que a sua vida mudou completamente. No dia em que tiver afazeres, forçoso será encontrar-se com ela. Quando lhe apetecer ficar à noite em casa, terá de ir ao teatro ou a u cinema odoro e insípido. Passará manhãs de sol inteiras em casa à espera de uma carta e tardes de chuva intermináveis à cuca de da madame numa esquina. Deverá abandonar certo colete de fantasia que o senhor estima como pessoa de família, porque ela o declara saloio e ridículo. Em compensação nem para se deitar poderá tirar uma gravata horrível que ela acha adorável e de que lhe fez presente. Descuidará dos seus amigos e, provavelmente, será levado a cortar relações com os melhores por serem da embirração da sua bem -amada.
Em resumo: dentro da tina, à mesa, quando fizer a barba ou andar à procura da risca do cabelo, de manhã, à tarde, à noite, terá sempre a preocupação que ela existe e isso é tremendo, meu prezado amigo.

1 comentário:

Post-It disse...

Ah, pois, chega a todos!
;)