" Escreveu a Connie no mesmo tom triste e melancólico de sempre, por vezes irónico e imbuído de um estranho afecto sem sexo. O seu afecto por ela não envolvia nenhuma expectativa, e a distância que mantinha continuava igual. Não havia lugar para expectativas ou esperança dentro dele. Odiava a esperança. "Une immense espérance a traversé la terre", era uma frase que tinha lido não sabia onde, e à qual acrescentou " e destruiu na sua passagem tudo o que valia a pena".
Connie nunca o percebeu muito bem, mas, à sua maneira, amou-o. Ela sentia sempre dentro de si a sua falta de esperança, e, sem esperança, não podia amar. Ele, pela mesma razão, jamais seria capaz de amar.
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Ele não podia manter coisa nenhuma, era parte integrante da sua própria natureza ter de romper com todos os elos, e ficar liberto, isolado, abandonado. Esta era a sua maior necessidade, embora sempre tivesse dito: "Ela deixou-me".
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Quando Connie subiu para o quarto, fez o que não fazia há muito tempo: despir-se completamente e ver-se nua no enorme espelho. Não sabia o que procurava, nem o que queria ver, não sabia; no entanto deslocou o candeeiro para, com a luz, se ver melhor.
E pensou uma vez mais o que já tinha pensado muitas vezes...como é frágil, sensível e patético, um corpo humano nu! Qualquer coisa de inacabado, de incompleto.
As pessoas diziam que tinha boa figura, mas, presentemente, estava fora de moda: era um corpo demasiado feminino, sem contornos de um adolescente. Não era muito alta, tinha um tipo escocês, baixo, com uma certa graça fugidia que podia ser beleza. A pele era levemente morena, os membros emanavam uma certa paz. O seu corpo devia ter possuído uma riqueza e uma plenitude, fugidias, mas faltava-lhe qualquer coisa: em vez de estar amadurecio nos seus contornos, estava a ficar mole e um pouco rígido, como se lhe faltasse sol e calor. Um pouco acinzentado, sem seiva!
Desiludido o corpo de mulher, pois não lograra tornar-se pueril, imaterial e transparente; em vez disso ficara opaco.
Tinha os seios pequenos, (...) mas também não amadurecidos, um pouco amargos, sem sentido. A barriga tinha perdido o brilho fresco e arrendondado (...)
O SEU CORPO ESTAVA A PERDER O SIGNIFICADO, A FICAR APAGADO E OPACO, UMA SUBSTÂNCIA INSIGNIFICANTE. (...) ESTAVA UMA VELHA, VELHA AOS VINTE E SETE ANOS, SEM BRILHO, SEM FULGOR CARNAL. VELHA POR ABANDONO E RECUSA. Sim, recusa.(...) Oh!, a vida do espírito!Nesse momento sentiu um ÓDIO SURDO por essa imensa FRAUDE! (...)
Vestiu a camisa de noite, foi para a cama, e começou a chorar amargamente. Da sua amargura nasceu uma indignação fria contra Clifford, os seus livros e tudo o que ele dizia; contra todos os homens como ele, que defraudavam a mulher até do seu próprio corpo.
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E sentiu ao mesmo tempo, como jamais sentira, a agonia do seu abandono de fêmea, que começava a tornar-se insuportável.
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É por tudo isto que não gosto de pensar muito em ti. Sinto-me torturado, e para ti não traz vantagem. Não gosto que estejas longe de mim. Mas se começo a atormentar-me fico pior. Paciência, o que é preciso é paciência. (...) Acredito num mistério superior que não permite que os coraçãoes se apaguem. (...)
E assim gosto da minha castidade neste momento, porque é como a paz que sobrevém ao amor.(...)
Bem, tantas palavras só porque não te posso tocar. Se pudesse dormir abraçado a ti, a tinta ficaria no tinteiro. Podemos ser castos estando juntos, como podemos sê-lo fazendo amor. Mas, por agora, temos de viver separados, e creio que é realmente o mais sensato. Oh, mas não tenho a certeza. (...) E neste momento não consigo sequer parar de te escrever. (...) É preciso vivermos isso e prepararmo-nos para o nosso encontro. John Thomas despede-se de Lady Jane, um pouco triste, mas cheio de esperança!"