terça-feira, 29 de julho de 2008

Um dia fujo para o Alentejo...

Era a primeira vez que viajavam de carro. Estavam com sorte quanto ao tempo, céu nublado! Faziam a viagem na maior hora de calor de um dia de Verão. Estava abafado e ameaçava chover. Seis horas era o previsto para a viagem.Ouviam música, falavam e às vezes ela lia-lhe contos em voz alta, até começar a enjoar.
Ela trazia a mão de fora da janela para sentir a densidade do ar. Passaram pelo Alentejo. Ela tinha o sonho simples de trabalhar para uma empresa, através do computador, e fixar-se num desses lugares. Nessa terra esquecida, nessa terra de ninguém. Seca, árida, deserta. Esquecer-se no deserto.
Pediu para ele parar, ele julgou que ela enjoara. Encostou. Ela abriu a porta do carro, descalçou as sandálias pelos calcanhares, começou a andar, descalça, por aquele campo de terra vazia, despiu o vestido pela cabeça, tirou a roupa interior e começou a correr, de braços abertos.
Nesse momento, principiou a chover, aquela chuva parca, mas de pingos grossos. Que cheiro a terra molhada! E os pés a enterrarem-se na humidade da Natureza...
Ele deslizara para o lugar do lado e cruzara os braços por cima do vidro da janela, apoiando o queixo. Observava-a. Gostaria de pertencer à terra, como ela, ser a terra como ela. Contemplou a figura, na fragilidade da sua nudez, que se tornava cada vez mais pequena. Teve medo de a perder para a linha do horizonte.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Helena de Tróia


" -Ulisses! - diz Helena, abafando um grito.
- O próprio - responde o mendigo em voz baixa.
Várias recordações afluíram ao espírito da esposa de Páris...Ulisses, rei de Ítaca, o mais astucioso de todos os gregos...Há quanto tempo o não via? Fora um dos seus pretendentes, outrora, quando ela vivia na Grécia, na corte do Rei de Esparta. Nessa altura preferira Menelau, o seu primeiro marido...Como tudo isso já ia longe!
- Que vens cá fazer? - pergunta-lhe.
- Oferecer-te a libertação.
- A libertação?
- Não te finjas admirada. Todos sabem que Páris se aproveitou da ausência de Menelau para te raptar e te trazer aqui, fazendo-te passar por esposa.
- E quem te disse que não concordei?
- Responder com uma pergunta não demonstra grande certeza.
- E se te denunciasse?
- Sei que não o farás.
- Não me desafies, Ulisses. Se queres salvar a pele, vai-te daqui.
- Como queiras.
***
- Vais expulsar-me outra vez?
A sua clarividência não o enganara. Helena não só não revelou a sua presença, como aceitou, sem hesitar, ajudá-lo a roubar Paladion.
***
De repente, Helena deixou de pensar. Atingindo o cimo da cidadela, agitou a tocha combinada. Depois entregou-se à sorte e esperou os acontecimentos.
Eles precipitaram-se com estranha velocidade. Dentro das muralhas, Menelau só pensava em juntar-se àquela que o abandonara vergonhosamente.
-Ela morrerá - havia anunciado vezes sem conta durante a guerra. - Mas só a minha mão a deve ferir. Ai daquele que interferir na minha vigança! (...) Mal saltou a terra, Ulisses procurou Menelau com os olhos, descubriu-o a custo, assistiu ao fim do combate, que culminou na morte de Príamo, e precipitou-se para lhe tentar barrar o caminho.
- Um momento!- gritou.
- Para trás! - respondeu Menelau.
- Primeiro mete a espada na bainha.
- Não te metas nos meus assuntos.
- Mas estes assuntos dizem-me respeito. Tenta ao menos ouvir-me. Se conseguimos entrar na cidade foi graças a Helena. E tu bem o sabes! Se tivesse sido surpreendida em flagarante pelos Troianos, tê-la-iam lapidado. E nós, que lhe devemos a vitória, vamos tratá-la como uma traidora?
-Nessas palavras reconheço o astucioso Ulisses!
-Mas, então, que tens a responder-me?
- Que, ao assegurar o nosso triunfo, talvez se tenha penitenciado da falta cometida contra a Grécia...Mas nada, ouve bem, nada a não ser o seu sangue conseguirá lavar a vergonha com que me cobriu.
***
Parou na soleira da segunda sala. Helena esperava-o imóvel.
Vendo-o aparecer, não disse uma palavra. Baixou os olhos e logo a seguir voltou a erguê-los, esboçou um sorriso tímido mas de uma tal graça que perturbou o herói encolerizado e o fez deixar cair a espada que trazia nas mãos."

domingo, 27 de julho de 2008

Domingos escolhidos

" Em primeiro lugar, procedendo ao inventário de entrada, o meu amigo não ama a tal cavalheira. Não é impelido para ela por uma atracção irresistível do género daquela que levou Werther a matar-se por Carlota e certa Carlota, que eu conheci, a pôr no prego a máquina de costura a fim de comprar uma pistola de dois canos, que, afinal, seguiu o mesmo caminho da máquina. Também o não impulsiona aquela indomável sugestão física, a que muita gente chama Amor, confundindo, como diz Alphonse Karr, uma víscera com um músculo. A sua agitação não é desordenada, o seu desvairo não é grande. Se assim fosse, o senhor não viria consultar-me. A estas horas estaria bombardeando a tal senhora com o fogo cruzado de todas as suas batarias.
Ora muito bem. Voltando ao meu ponto de vista, começaremos por notar que, para a sociedade anónima que pretende estabelecer, o senhor entra com certo capital e a dama com outro. O senhor é novo, sem ser uma espanhola de tampa de caixa de fósforos merece até certo ponto a alcunha que lhe puseram, é educado, não é muito esperto, mas também não é absolutamente idiota, tem alguma coisa de seu, situação preferível a ter aquilo que é dos outros, diz possuir certa práctica da sociedade e deve ser ornado de mais algumas pequenas qualidades que a sua modéstia lhe não deixa enumerar. Isso representa capital apreciável.
*** continua***

sexta-feira, 25 de julho de 2008

William Shakespeare

"Depois de algum tempo aprendes a diferença, a subtil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma.
E aprendes que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança.
E começas a aprender que beijos não são contratos e presentes, não são promessas.
Começas a aceitar as tuas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança.
Aprendes a construir todas as estradas no hoje, porque o terreno de amanhã é incerto demais para planos.
E aprendes que não importa o quanto te importes, algumas pessoas simplesmente não se importam…
E aceitas, que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai ferir-te de vez em quando e precisas perdoá-la por isso.
Aprendes que falar pode aliviar dores emocionais. (…)
Descobres que se leva anos para se construir a confiança e apenas segundos para destruí-la, e que podes fazer coisas num instante de que te arrependerás para o resto da vida.
E o que importa não é o que tens na vida, mas quem tens na vida.
E que os bons amigos são a família que podemos escolher.
Aprendes que não tens que mudar de amigos se compreenderes que os amigos mudam, percebes que o teu melhor amigo e tu podem fazer qualquer coisa, ou nada, e ter momentos bons juntos.
Descobres que as pessoas com quem te importas são tomadas de ti muito depressa, por isso devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pode ser a última vez que as vejamos.
Aprendes que as circunstâncias e os ambientes têm influência sobre nós, mas somos nós responsáveis por nós mesmos.
Começas a aprender que não te deves comparar aos outros, mas ao melhor que podes ser.
Aprendes que, ou te controlas nos actos ou eles te controlarão, e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja a situação, sempre existem dois lados. (…)
Aprendes que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfren-tando as consequências.
Aprendes que paciência requer muita prática.
Aprendes que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e com o que aprendeste com elas do que com os aniversários que celebras-te.
Aprendes que nunca se deve dizer a uma criança que os sonhos não existem, poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.
Aprendes que quando estás com raiva, tens o direito de estar com raiva, mas não tens o direito de seres cruel com ninguém.
Aprendes que com a mesma severidade com que julgas, tu serás condenado em algum momento.
Aprendes que não importa em quantos pedaços o teu coração foi partido, o mundo não pára para que o consertes.
E aprendes que realmente podes suportar…
que realmente és forte, e que podes ir muito mais longe quando pensas que não podes ir mais. (…)
As nossas dádivas são traidoras e fazem-nos perder o bem que poderíamos conquistar, se não fosse o medo de tentar…"

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Hortelã

hortelã

hortelã

hortelã

hortelã
hortelã
e a rima...
ãh?!

quarta-feira, 23 de julho de 2008

The Story, Brandie Carlile

All of these lines across my face
Tell you the story of who I am
So many stories of where I've been
And how I got to where I am
But these stories don't mean anything
When you've got no one to tell them to
It's true...I was made for you

I climbed across the mountain tops
Swam all across the ocean blue
I crossed all the lines and I broke all the rules
But baby I broke them all for you
Because even when I was flat broke
You made me feel like a million bucks
Yeah you do and I was made for you

You see the smile that's on my mouth
Is hiding the words that don't come out
And all of my friends who think that I'm blessed
They don't know my head is a mess
No, they don't know who I really am
And they don't know what I've been through like you do
And I was made for you...

terça-feira, 22 de julho de 2008

quarta-feira, 16 de julho de 2008

"A alegria é como o Sol: ilumina quem a possui e reanima os que recebem os seus raios."

terça-feira, 15 de julho de 2008

O amante de Lady Chatterley, D.H. Lawrence

" Escreveu a Connie no mesmo tom triste e melancólico de sempre, por vezes irónico e imbuído de um estranho afecto sem sexo. O seu afecto por ela não envolvia nenhuma expectativa, e a distância que mantinha continuava igual. Não havia lugar para expectativas ou esperança dentro dele. Odiava a esperança. "Une immense espérance a traversé la terre", era uma frase que tinha lido não sabia onde, e à qual acrescentou " e destruiu na sua passagem tudo o que valia a pena".
Connie nunca o percebeu muito bem, mas, à sua maneira, amou-o. Ela sentia sempre dentro de si a sua falta de esperança, e, sem esperança, não podia amar. Ele, pela mesma razão, jamais seria capaz de amar.
***
Ele não podia manter coisa nenhuma, era parte integrante da sua própria natureza ter de romper com todos os elos, e ficar liberto, isolado, abandonado. Esta era a sua maior necessidade, embora sempre tivesse dito: "Ela deixou-me".
***
Quando Connie subiu para o quarto, fez o que não fazia há muito tempo: despir-se completamente e ver-se nua no enorme espelho. Não sabia o que procurava, nem o que queria ver, não sabia; no entanto deslocou o candeeiro para, com a luz, se ver melhor.
E pensou uma vez mais o que já tinha pensado muitas vezes...como é frágil, sensível e patético, um corpo humano nu! Qualquer coisa de inacabado, de incompleto.
As pessoas diziam que tinha boa figura, mas, presentemente, estava fora de moda: era um corpo demasiado feminino, sem contornos de um adolescente. Não era muito alta, tinha um tipo escocês, baixo, com uma certa graça fugidia que podia ser beleza. A pele era levemente morena, os membros emanavam uma certa paz. O seu corpo devia ter possuído uma riqueza e uma plenitude, fugidias, mas faltava-lhe qualquer coisa: em vez de estar amadurecio nos seus contornos, estava a ficar mole e um pouco rígido, como se lhe faltasse sol e calor. Um pouco acinzentado, sem seiva!
Desiludido o corpo de mulher, pois não lograra tornar-se pueril, imaterial e transparente; em vez disso ficara opaco.
Tinha os seios pequenos, (...) mas também não amadurecidos, um pouco amargos, sem sentido. A barriga tinha perdido o brilho fresco e arrendondado (...)
O SEU CORPO ESTAVA A PERDER O SIGNIFICADO, A FICAR APAGADO E OPACO, UMA SUBSTÂNCIA INSIGNIFICANTE. (...) ESTAVA UMA VELHA, VELHA AOS VINTE E SETE ANOS, SEM BRILHO, SEM FULGOR CARNAL. VELHA POR ABANDONO E RECUSA. Sim, recusa.(...) Oh!, a vida do espírito!Nesse momento sentiu um ÓDIO SURDO por essa imensa FRAUDE! (...)
Vestiu a camisa de noite, foi para a cama, e começou a chorar amargamente. Da sua amargura nasceu uma indignação fria contra Clifford, os seus livros e tudo o que ele dizia; contra todos os homens como ele, que defraudavam a mulher até do seu próprio corpo.
***
E sentiu ao mesmo tempo, como jamais sentira, a agonia do seu abandono de fêmea, que começava a tornar-se insuportável.
***
É por tudo isto que não gosto de pensar muito em ti. Sinto-me torturado, e para ti não traz vantagem. Não gosto que estejas longe de mim. Mas se começo a atormentar-me fico pior. Paciência, o que é preciso é paciência. (...) Acredito num mistério superior que não permite que os coraçãoes se apaguem. (...)
E assim gosto da minha castidade neste momento, porque é como a paz que sobrevém ao amor.(...)
Bem, tantas palavras só porque não te posso tocar. Se pudesse dormir abraçado a ti, a tinta ficaria no tinteiro. Podemos ser castos estando juntos, como podemos sê-lo fazendo amor. Mas, por agora, temos de viver separados, e creio que é realmente o mais sensato. Oh, mas não tenho a certeza. (...) E neste momento não consigo sequer parar de te escrever. (...) É preciso vivermos isso e prepararmo-nos para o nosso encontro. John Thomas despede-se de Lady Jane, um pouco triste, mas cheio de esperança!"

segunda-feira, 14 de julho de 2008


CARPE DIEM

Abraça enquanto tens força nos braços,
beija enquanto os teus lábios são vermelhos,
vive enquanto estás vivo!

domingo, 13 de julho de 2008

DOMINGOS ESCOLHIDOS (cont.)

" - Meu jovem e louro amigo! A escrituração comercial, que à primeira vista parece uma ciência inexacta e inútil, é evidentemente prejudicial quando se aplica ao dinheiro de comanditários e acionistas. É, no entanto, de grande utilidade se dela nos servirmos para orientar as nossas questões do coração.
Se, em tudo quanto supomos ser esses gozos da vida atrás dos quais perpetuamente correm os nosso instintos e as nossas ilusões, tivessemos uma noção exacta do prazer que nos causam e do preço que nos custam, se abrissemos em qualquer dos nossos casos sentimentais uma conta corrente, registando na página Haver as venturas reais e fictícias que essas aventuras nos fornecem e na página Dever os variados esforços empregados para as conseguir, creia que a maior parte, logo ao fechar o primeiro balancete, teria à laia dos tendeiros infelizes, que chamar credores e/ ou abrir falência declarada ou tentar uma concordata amena. O livro Razão é indispensável em questões de amor e, no entanto, ninguém faz uso dele.
Tratemos, pois, de encarar comercialmente o seu caso, que é muito comezinho e toda a gente tem tido na vida."
***Continua***

quarta-feira, 9 de julho de 2008

DES(AMOR)

Cheguei. Ele, sentado no banco de pedra coma as mãos abertas sob um livro, lia e esperava. Quando me sentiu, levantou a cabeça e os olhos por cima dos óculos, franzindo a testa. Sorriu. Fechou imediatamente o livro com uma pancada seca, arrumou-o e levantou-se. Passou os braços à volta do meu corpo, cheirou-me o cabelo e beijou-me na boca.
Não, não foi nada assim!...Eu estava à espera dele, sentada no banco de pedra, com frio. Ele chegou, eu levantei-me e demos um beijo rápido. Pelo caminho falámos de Teatro, Literatura e Música, e, então, ele deu-me uma flor que trazia amarrotada dentro do bolso do casaco.
Não. Não foi nada disto!...Pelo caminho não falámos, havia uma barreira à prova de som entre nós, como um muro entre dois jardins. Fizemos o mesmo caminho de sempre, vimos as pessoas de sempre e agimos da mesma maneira de sempre.
Não. Estou a mentir. Na despedida ele disse: - Amo-te.