quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
A morte saiu à rua num dia assim...
Em tempos conheci uma pessoa que me disse que pensava na morte todos os dias. Mas eu não, eu sou uma pessoa prática, com preocupações terrestres, eu penso na vida, Tenho tantas coisas na vida a ocuparem-me os pensamentos que, mesmo que quisesse pensar na morte, não tinha tempo para isso.
No entanto, quando a morte aparece de perto, junto de pessoas que conhecemos e, em vez de um pensamento de acontecimento futuro, se torna real e palpável, aí sim, chego a passar dias inteiros a pensar na morte.
Neste último caso em particular, tratou-se de um suicídio e, mais do que no desaparecimento da pessoa em si, penso na própria acção, no sofrimento ou coragem, tento perceber e explicar.
Era uma rapariga como eu, que conheci em tempos de Faculdade, da mesma idade e com uma família relativamente igual à minha. Podia ser eu!
Uma amiga em comum liga-me, porque tudo lhe parece ainda irreal, espera vê-la aparecer à porta de casa, mais uma vez, como em tantos fins-de-semana passados. E diz-me que precisava apenas de saber se eu estou bem, se a vida me corre de feição, porque não nos vemos há muito tempo e agora aconteceu isto e…podia ser eu!
Não, não podia! Não podia ser eu. Confesso que, muitas vezes, me apeteceu desaparecer, mas descansa, nunca era capaz de pôr uma corda ao pescoço e enforcar-me, simplesmente não era! Ainda hoje consigo agarrar-me a qualquer coisa, a querer viver e a ter curiosidade do futuro.
Eu acho que pior que a morte física é a morte por esquecimento. Talvez possa dizer que, ao longo da vida, fui uma pessoa privilegiada, não sofri quase nenhuma perda física que me afectasse de uma maneira profundamente irremediável, mas já me morreram muitas pessoas por esquecimento. Por causa de afastamentos, divergências, incompatibilidade de personalidades.
Esse tipo de morte é semelhante a um suicídio, é uma escolha, não um acaso, uma fatalidade.
Concurso de contos FNAC/Teorema
FNAC Teorema. Inscrições até 31 de Janeiro.
Procurem no Google!ehehehehehe!
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
Amor á moda antiga: POEMA DO NOIVO E A RESPOSTA DELA
Que feliz sou eu, meu amor!
Em breve estaremos casados,
o café da manhã na cama,
um bom sumo e pão torrado
Um ovo bem mexidinho
tudo pronto bem cedinho
depois irei pró trabalho
e você para o mercado
Daí você corre p'ra casa
rapidinho, arruma tudo
e corre pró seu trabalho
para começar seu turno
Você sabe que de noite
gosto de jantar bem cedo
de ver você bem bonita
alegre e sorridente
Pela noite mini-séries
cineminha bem barato
nunca iremos ao shopping
nem a restaurante caro
Você vai cozinhar p'ra mim
comidinhas bem caseiras
pois não sou dessas pessoas
que gosta de comer fora...
Você não acha querida
vão ser dias gloriosos?
Não se esqueça, meu amor,
que logo seremos esposos!
POEMA ESCRITO POR ELA:
Que sincero meu amor!
Que oportuna tuas palavras!
Esperas tanto de mim
que me sinto intimidada
Não sei fazer ovo mexido
como sua mãe adorada,
meu pão torrado se queima
de cozinha não sei nada!
Gosto muito de dormir,
até tarde, relaxada,
ir ao shopping fazer compras
com a Mastercard dourada
Sair com minhas amigas,
comprar só roupa de marca
sapatos só exclusivos
e as lingeries mais caras
Pense bem, que ainda há tempo
a igreja não está paga
eu devolvo meu vestido
e você seu terno de gala
E domingo bem cedinho
p'ra começar a semana,
ponha aviso num jornal
com letras bem destacadas:
HOMEM JOVEM E BONITO
PROCURA ESCRAVA BEM LERDA
POR QUE SUA EX-FUTURA ESPOSA
MANDOU ELE IR À *****! !...
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
POEMA ROUBADO
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
Just the type!
- Não! Daquelas de cabelo apanhado com um lápis e de óculos na ponta do nariz!
quinta-feira, 30 de setembro de 2010
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
Poema de uma funcionária cansada
Ela
levanta-se às 8h da manhã,
para entrar às 10.
Ela
com o almoço para levar,
porque não tem tempo de comer em casa.
Ela
anda 10 minutos a pé,
até à paragem de autocarro,
mais 20 minutos de autocarro,
mais 20 minutos a pé,
para chegar ao trabalho,
porque não tem carro.
Ela
passa 8h em pé, a servir café
às pessoas que passam no corredor,
porque não conseguiu emprego na área dela.
Pessoas que nem sequer imaginam
o esforço que
Ela
faz para poder trabalhar.
As pessoas só fazem um esforço (mínimo)
quando é por prazer, não para trabalhar.
"Quem corre por gosto não cansa", diz-se.
Mas
Ela
corre para trabalhar.
Podem pensar, talvez
Ela
goste de trabalhar!
Não, ninguém gosta de trabalhar,
é uma obrigação
e ninguém gosta de obrigações!
Ela
pensa em voltar para a praia...
Lá,
Ela
tem um quase Príncipe Encantado,
num quase Palácio de Fadas,
num quase "viveram felizes para sempre..."
domingo, 26 de setembro de 2010
Rifa-se um coração, Clarice Lispector
O Meu Coração; Anaquim
Que se entrega num instante
Por ai a onde for
Acha que sabe bem o que eu preciso
Prende-se a qualquer sorriso
Sem motivos de maior
O meu coração é inocente
Pensa que a vida é um mar de rosas
Mas eu que vi espinhos em toda a gente
Afasto essas certezas duvidosas
O meu coração é um bicho muito estranho
Que se esconde e não responde a quem chamei
Alergico ao exterior vive na toca
Onde se esconde e sofoca por não ver entrar o ar
O meu coração vive trancado
Diz que atirou a chave ao mar
E eu que a procurei por todo o lado
Só me resta assim continuar
Coração triste
Não me arrastes em teu passo
Meu corpo insiste em decidir o que faço
Se eu vir que sim ele diz que não
Eu vou bem sem coração
Entre morrer de amor e viver nesta prisão
Coração louco
Não me imponhas o teu vicio
Que a pouco e pouco vou cedendo ao sacrificio
É que eu sei bem que se acordares
E procurares por ai
Encontras outro coração para ti
Já encontraste?
Demoras muito ou quê?
O meu coração é uma criança
Ansiosa pela dança de quem lhe estender a mão
Mas este é caprichoso e inclusivo
É na lista compulsivo que não chega à conclusão
O meu coração segue as novelas
Jubila com as falas das actrizes
O meu carrega histórias de mazelas
E afasta-se desses finais felizes
Coração triste
Não me arrastes em teu passo
Meu corpo insiste em decidir o que faço
Se eu vir que sim ele diz que não
Eu vou bem sem coração
Entre morrer de amor e viver nesta prisão
Coração louco
Não me imponhas o teu vicio
Que a pouco e pouco vou cedendo ao sacrificio
É que eu sei bem que se acordares
E procurares por ai
Encontras outro coração para ti
Falei primeiro a bem por ser assunto de respeito
Mas não deu ouvidos perseguiu naquele jeito
Mudei para as ameaças
Tentei que usasse a razão
Mas é palavra estranha pro meu pobre coração
Farta desses maus tratos fiz as malas e parti
E logo te encontrei com o mesmo modo que eu sofri
A mesma frustração
A mesma pose o mesmo olhar
E em teu toque senti no meu corpo a trupulsar
Juntos rimos de tudo
Só chorámos nas novelas
Fingimos ser crianças e dançámos como elas
Perdemos noite e dia entre histórias e canções
Juntámos nomes, gostos e moradas
E quase sem dar por nada
Encontrámos corações
Coração triste
Não me arrastes em teu passo
Meu corpo insiste em decidir o que faço
Se eu vir que sim ele diz que não
Eu vou bem sem coração
Entre morrer de amor e viver nesta prisão
Coração louco
Não me imponhas o teu vicio
Que a pouco e pouco vou cedendo ao sacrificio
É que eu sei bem que se acordares
E procurares por ai
Encontras outro coração para ti
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
Sexta-feira à noite, Maria Colasanti
com dedos molhados de saliva.
O mesmo gesto com que todos os dias
contam dinheiro papéis documentos
e folheiam nas revistas
a vida dos seus ídolos.
Sexta-feira à noite
os homens penetram suas esposas
com tédio e pénis.
O mesmo tédio com que todos os dias
enfiam o carro na garagem
o dedo no nariz
e metem a mão no bolso
para coçar o saco.
os homens ressonam de borco
enquanto as mulheres no escuro
encaram seu destino
e sonham com o príncipe encantado.
domingo, 12 de setembro de 2010
sábado, 11 de setembro de 2010
O fio da fábula, Jorge Luis Borges
As coisas aconteceram assim. Teseu não podia saber que do outro lado do labirinto estava o outro labirinto, o do tempo, e que num lugar já fixado estava Medeia.
O fio perdeu-se, o labirinto perdeu-se também. Agora nem sequer sabemos se nos rodeia um labirinto, um secreto cosmos ou um caos ocasional. O nosso mais belo dever é imaginar que há um labirinto e um fio. Nunca daremos com o fio; talvez o encontremos e o percamos num acto de fé, num ritmo, no sono, nas palavras que se chamam filosofia ou na mera e simples felicidade.
sexta-feira, 10 de setembro de 2010
"A virgem e o cigano" D. H. Lawrence
Fazia parte da sua natureza ter destes ataques de ardente desejo por um qualquer lugar dela conhecido; de estar num certo lugar, com alguém que de algum modo significasse "lar" para si. Esta tarde, era o acampamento de ciganos. O homem vestido de verde fazia desse acampamento o seu lar. Estar onde ele estava era estar num lar. As carroças, os garotos, as outras mulheres: tudo era natural, era o seu lar, era como se tivesse lá nascido."
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
Mudanças
Ele tinha duas propostas de emprego e não sabia por qual decidir-se. Uma era aliciante pelo dinheiro, mas implicava sair do país, outra era aliciante, porque podia dar-se ao luxo de continuar no seu cantinho e na sua vida-vidinha.
Ela disse-lhe: "Vê lá o que é melhor para ti!"
Depois de dizer aquilo sentiu-se estúpida de ter dito apenas aquilo! Isso vindo de uma pessoa que não conseguia decidir o que queria da vida há já dois meses até parecia gozo!
O Verão estava a acabar, mas ela ainda queria aproveitar mais um pouco de Sol...
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
"O poder da dúvida" by o sexo e a Cidália
"Às vezes penso nos namorados que tive e como a minha vida teria sido diferente com cada um deles. Já pensaram nisto?
Já pensaram que, ao ficarmos com determinada pessoa, a nossa vida seguiria outro rumo? Ou seremos nós, a nossa identidade, mais fortes que tudo o resto?
Lembrei-me do Arnaldo porque me reencontrei com ele há uns tempos. Lembrei-me que, na altura em que o conheci, eu era uma miúda cheia de manias (sim, eu devia ser insuportável, felizmente com a idade tornei-me mais doce) e, perante a ternura dele, recuei. Lembro-me dos desenhos que me fez e dos beijos que demos. Há coisas boas guardadas na nossa memória ao fim de muitos anos. Nós mudámos, mas a memória encarrega-se de nos lembrar o que fomos, o que já não temos. Ao Arnaldo não sei se alguma vez pedi desculpa, não sei se ele se apercebeu de quem eu era, o que queria ser. Felizmente nunca quis ser outra coisa senão boa pessoa. Às vezes temos sorte em ter pais bons que nos ensinam o essencial. Eu aprendi com eles o principal e aperfeiçoei o resto.
Ao reencontrar o Arnaldo fiz uma árvore – não dessas tretas familiares em que todos querem descobrir descendência famosa ou nobre, mas das pessoas que beijei, do toque permitido. No tempo em que comecei a namorar, «toque» era só uma palavra romântica, hoje é muito mais do mundo das telecomunicações… «Dás-me um toque?»
Na árvore dos meus namorados não faltam braços fortes e ramificações secundárias. São os braços fortes que me podiam ter feito diferente mas, se quiserem, nos secundários há pormenores determinantes. Pensem nos vossos namorados e namoradas todos e vejam-se a vocês próprios, encontrem-se em atitudes que na altura pareciam inconsequentes e que vieram ditar o vosso futuro. Ou se calhar estou a exagerar e os namorados são só uma escolha que nos permite estender o nosso ego.
Por causa do Arnaldo vi-me mais de vinte anos depois em frente ao espelho a pensar «porque eras assim? Como reagias daquela forma?», e não é que encontre respostas, mas pensar já é uma forma amiga de seguir em frente na busca da perfeição.
Se eu tivesse continuado com o Arnaldo, o Fernando, o Carlos ou o Tiago, dificilmente estaria hoje aqui. E «aqui» é um sítio no deserto. Estou isolada numa casa, num dia cinzento. Estes dias são perfeitos para pensar no passado. A luz demasiado clara dos dias de Verão ofusca o pensamento e as memórias. Se eu tivesse ficado com um deles, onde estaria agora? Quem teria sido? Não é curioso? Terão sido as batalhas seguintes que me fizeram diferente? Poderia eu ter tido uma vida mais pacata sem dar resposta às muitas curiosidades que tinha dentro de mim?
Como se vive uma vida inteira quando temos perguntas constantes dentro de nós e não lhes damos respostas? É que por mais que tentemos apagar a dúvida, ela só pode crescer dentro de nós. O que fiz foi ter seguido o que ouvia. Se quiserem, dediquei a minha vida a ouvir as perguntas que tinha na minha cabeça e a dar-lhes respostas. Aqui fica um pedido de desculpas a todos os namorados, uma vez que tive de seguir em frente. Haverá algum que do outro lado pense «como teria sido a minha vida se eu ainda estivesse com ela? Se eu tivesse escolhido ficar com ela?» Às vezes, mais do que a dúvida é o poder da escolha que nos mói o pensamento. Mas lá está, na escolha já está a dúvida.
O Arnaldo, ouvi dizer, é um homem muito introspectivo. Já o era na altura mas os anos acentuaram-lhe o silêncio. Se me reencontrasse fisicamente agora com ele, havia de querer saber quem era na altura. Se esta ideia que tenho, de ter sido uma miúda caprichosa, correspondia à ideia que guardou de mim.
Sempre que pudermos, devemos ir ao encontro de velhos amores. A memória que guardam de nós pode ajudar-nos a perceber quem somos.
Oh God, make me good, but not yet!"
terça-feira, 24 de agosto de 2010
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
Os escritores e o sexo, por Paulo Nogueira
"Acaba de ser publicado um livro que desfaz o mito segundo o qual escritores e escritoras têm uma vida sexual escaldante. Between the Sheets (Entre os Lençóis, em português), de Lesley McDowell, conta fracassos amorosos que por vezes tiveram consequências trágicas: se Simone de Beauvoir angariava amantes para Sartre e Hilda Doolitle casou com Ezra Pound mas gostava de mulheres, Sylvia Plath meteu a cabeça no forno, ligou o gás e matou-se."
quinta-feira, 5 de agosto de 2010
A Princesa do deserto alentejano
Antes pelo contrário ela amou "perdidamente" e foi amada por vários homens!
Um dos grandes motivos da sua eterna tristeza foi nunca chegar a ser reconhecida pelo Pai, facto que só aconteceu 19 anos após a sua própria morte; o outro foi a incapacidade de ter filhos e, mais tarde a morte de seu irmão mais novo, pelo qual nutria um amor de mãe.
Chegou a casar e contraiu matrimónio várias vezes.A Poetisa afirma que sempre que casou, casou por amor.
O primeiro marido foi um jovem Professor e durou cerca de 8 anos. Viveram em Évora e foi aí que Florbela descobriu a sua vocação para a Poesia. O início dos convívios na capital, porém, veio romper com esse casamento idílico.
O segundo marido foi um alferes de artilharia da Guarda Republicana de nome António Guimarães e durou apenas cerca de 2 anos. Viveram grande parte do casamento no Porto,dentro do quartel do regimento da Guarda Republicana, o que levou ao fim da união, causado pelo afastamento social e cultural da Poetisa e também pelos abusos psicológicos e físicos que o marido nela infligia.
O terceiro casamento foi com o Médico Mário Lage, que cuidou dela durante uma depressão que tomou conta dela aquando o segundo divórcio. Viveram em Matosinhos, na altura um meio bastante rural, facto que levou depois à infelicidade de Florbela.
Incompreendida pela Sociedade e pela própria Família, deixou-se levar por uma última depressão. Nem o amor do marido conseguiu arrancá-la daquele estado, morreu de causa natural aos 36 anos, diz-se, morreu de tristeza.
"Uma vida trágica para quem só soube escrever sobre a tragédia da vida. Florbela Espanca, uma das Poetisas mais conhecidas da Literatura Portuguesa, foi uma mulher invulgar, resignada a uma existência infeliz e atormentada. Sabia escrever como ninguém, mas tudo o que ela queria era amar e ser amada. Viveu à procura do Amor. Por falta dele morreu."
segunda-feira, 19 de julho de 2010
Poema roubado
Versos de Adília Lopes
me reconheçam
que me digam Olá
e Bom dia
mais que de espelhos
preciso dos outros
para saber
que eu sou eu"
sábado, 26 de junho de 2010
terça-feira, 22 de junho de 2010
"A mulher destruída", Simone de Beauvoir
sexta-feira, 11 de junho de 2010
Em terra de cegos...
Ela, todos os dias, tentava entrar sem ser ouvida, pé ante pé, pelas divisões escurecidas, mas nunca conseguia!
- Quem está aí? - perguntava a dona da casa, do seu quarto de doente.
- É a neta da Ti'Aida! - dizia Ela, baixinho, desiludida.
Mas como é que a D. Beatriz me consegue ouvir a entrar, se eu não faço nenhum barulho!? - pensava Ela. Esta ingénua criatura não sabia que os cegos tinham a audição mais apurada, ninguém lhe tinha dito! Outra coisa que ninguém lhe dizia, era o porquê da casa estar sempre tão escura, sempre com as janelas fechadas. Se a velha dona não podia ver, que diferença fazia? Era como se a casa se tivesse tornado tão doente como a dona!
Depois de ser descoberta, aquela visita perdia a graça e Ela já queria ir para casa outra vez!Mas, lá se sentava na cadeira, junto da cabeceira da cama e ia respondendo a todas as perguntas .
- A minha avó já aí vem com o comer, D. Beatriz. - dizia por fim.
Depois a avó d'Ela chegava com o almoço e dizia-lhe:
- Oh cachopa, fica aí a fazer companhia à Tiz enquanto ela come, que eu vou dar uma arrumadela à cozinha!
E Ela ficava. A velha vizinha era ajudada a ficar apoiada de lado, para poder comer sozinha. A comida era sempre cortada aos bocados, como para bebé, e vinha num prato fundo dentro de um tabuleiro, com uma colher. A velha entrevada tinha um buço espesso e, na maior parte das vezes, a gordura da comida ficava lá presa, então ela limpava-se com um pano de cozinha.
Enquanto a velha dona da casa comia, Ela observava-a e tentava pôr em prática mais uma das suas experiências. De vez em quando, roubava uma folha de alface e metia-a na boca, rapidamente. Fazia isto, não porque tivesse fome, mas apenas porque podia, porque a outra não a via a fazer aquilo. Era um desafio, um desafio à sua destreza infantil e um desafio à cegueira da outra.
Muitas vezes, a velha inválida lhe dizia: - Quando fores mais crescida, mando a costureira fazer-te um fato de empregada à medida, daqueles de bom tecido, com renda na gola e nos punhos e depois vens servir cá para casa!
E a pequena ingénua ficava a imaginar-se assim vestida, de cabelo num apanhado rígido, como as bailarinas russas, com aquela farda austera, que no seu pensamento transmitia respeito.
Sem saber que anos mais tarde a velha morreria, depois a avó morreria, ela mudaria de casa, de bairro, de escola, de família e de planos futuros.
E hoje Ela sorri do seu pequeno pensamento de menina pobre.
v.
domingo, 16 de maio de 2010
sexta-feira, 7 de maio de 2010
Próxima paragem
nas estações de comboios
e esperar...
Gosto de ver as pessoas.
São sempre mais os encontros que as despedidas!
segunda-feira, 3 de maio de 2010
outra nota pela post-it
He and She and Angels Three
Ruthless hands have torn her
From one that loved her well;
Angels have upborn her,
Christ her grief to tell.
She shall stand to listen,
She shall stand and sing,
Till three winged angels
Her lover’s soul shall bring.
He and she and the angels three
Before God’s face shall stand;
There they shall pray among themselves
And sing at His right hand
Lizzie Siddal
quinta-feira, 15 de abril de 2010
Uma nota pela Post-it
Spring’s Bedfellow
Spring went about the woods to-day,
The soft-foot winter-thief,
And found where idle sorrow lay
‘Twixt flower and faded leaf.
She looked on him, and found him fair
For all she had been told;
She knelt adown beside him there,
And sang of days of old.
His open eyes beheld her nought,
Yet ‘gan his lips to move;
But life and deeds were in her thought,
And he would sing of love.
So sang they till their eyes did meet,
And faded fear and shame;
More bold he grew, and she more sweet,
Until they sang the same.
Until, say they who know the thing,
Their very lips did kiss,
And Sorrow laid abed with Spring
Begat an earthly bliss.
domingo, 11 de abril de 2010
sexta-feira, 2 de abril de 2010
quinta-feira, 25 de março de 2010
Poema Possível
Pousa a tua cabeça dolorida
Tão cheia de quimeras, de ideal,
Sobre o regaço brando e maternal
Da tua doce Irmã compadecida.
Hás-de contar-me nessa voz tão qu’rida
A tua dor que julgas sem igual,
E eu, pra te consolar, direi o mal
Que à minha alma profunda fez a Vida.
E hás-de adormecer nos meus joelhos…
E os meus dedos enrugados, velhos,
Hão-de fazer-se leves e suaves…
Hão-de pousar-se num fervor de crente,
Rosas brancas tombando docemente,
Sobre o teu rosto, como penas de aves…
Florbela Espanca - Suavidade