terça-feira, 22 de junho de 2010

"A mulher destruída", Simone de Beauvoir

"Não sou o tipo de mulher a quem se mente. Orgulho imbecil. Todas as mulheres se julgam diferentes; todas pensam que certas coisas lhes não podem acontecer e todas elas se enganam.
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Noellie empresta-lhe livros; arma em intelectual. Concordo que não conheço tão bem como ela a literatura e a música modernas. Mas, no conjunto, não sou menos culta, nem menos inteligente do que ela. Maurício escreveu-me uma vez que acreditava mais no meu julgamento do que em qualquer outro porque era, ao mesmo tempo, esclarecido e ingénuo. Procuro exprimir exactamente o que penso, o que sinto: também ele; e nada nos parece mais precioso do que esta sinceridade.
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Mencionou cinco filmes que merecem ser vistos. Impossível. Houve tempo em que podia ir sozinha ao cinema, ou mesmo ao Teatro. É que não estava só. Havia em mim e à minha volta a sua presença. Agora, quando estou só, digo-me: - Estou só. - E tenho medo.
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Sei que hei-de fazer um movimento. A porta abrir-se-á e poderei ver o que está para além dela. É o futuro. A porta do futuro vai abrir-se. Lentamente. Implacavelmente. Estou no limiar. Existe somente uma porta e o que me espia por trás. Tenho medo. E não posso chamar ninguém por socorro. Tenho medo."

1 comentário:

Post-It disse...

Boa escolha nos excertos. Certeiros!
Gostei especialmente do segundo ;)