sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Penélope

Chamam-me
a viúva do marido vivo.
A minha casa está encerrada,
mas por todos os buracos
esgravatam os pretendentes
que rasgam um lar
que outrora foi sagrado.
É de noite e eu teço, eu teço...


Chamam-me
a mais bela.
A minha alma está fechada,
mas por todos os ouvidos
falam os amantes
que envilecem um corpo
que outrora foi puro.
Os meus olhos estão cegos
e eu teço, eu teço...


Chamam-me louca.
O meu coração está apertado,
mas por todas as veias
fervilha a humilhação, a angústia, a impotência,
que enraivecem a mulher
que outrora foi dócil.
As minhas mãos estão inchadas
e eu teço, eu teço.


Querido Ulisses!
Por que mares de afastamento navegas?
Que vozes de sereias ou feiticeiras ouves?


Chamam-me mãe.
O meu útero está seco,
mas por todos os membros
me agarra o filho
que outrora foi amado!
Os meus dedos estão picados
e eu teço, eu teço...


Desejado Ulisses!
Assim como te perdes em barcos de solidão,
também eu quero estar perdida!...

3 comentários:

Post-It disse...

Destorce o destroço e volta a torcer direitinho.
Torce e tece, enquanto esperas devagarinho.
Cose, descose-te e canta baixinho.
Desfaz-se lentamente a vertigem do remoínho...

;)

Gostei do texto!
Tens jeito, V.!
É favor continuar!!!
Bjos
P.

luminary disse...

You know how they say, "you can't live without love"? Well, oxygen is even more important.

Maga Ostrológica disse...

Gostei, gostei!
O que as pessoas escondem... Agora que começaste... Estou à espera de mais!

;D

Beijo