sexta-feira, 21 de novembro de 2008

O pé japonês


Falemos dos pés agora. O assunto é ainda mais interessante, pelo contraste que oferece com esses outros membros, atrofiados ou repelentes, da gente ocidental, que pés também se denominam. Se a mão japonesa é um enlevo, o pé é outro enlevo. (…)
Agora, naturalmente, vamos pousar o olhar sobre os pés da musumé; pousar é o termo próprio, como uma borboleta amorosa vai pousar sobre a corola de uma açucena. Naturalmente, pelos mimos do sexo, o pé da japonesa é mais gentil que o pé do nipónico; e quando a japonesa vive uma existência suficientemente recatada para poder esquivar-se aos poderes das intempéries (…), o seu pé nu, sobre a esteira doméstica e assente sobre a gheta gentil se sai para a rua, apresenta de ordinário uma extrema graciosidade, que qualquer explicação verbal não lograria definir. Para o estrangeiro recém-chegado, esta ponta de nudez inesperada, que surde da fímbria da seda do quimono, é encantadora; os gestos deste pé, as curvas ocasionais em que se requebra, a sua verdadeira mímica não só encantam, mas assombram, como uma intensíssima revelação estética, de que a Europa nem sequer nos oferece um vislumbre fugidio…por causa dos mofinos sapateiros!...”
Wenceslau de Moraes, in Antologia

2 comentários:

luminary disse...

Isto anda aqui uma onda de fetichismo de "Alto lá com a salivação!"

Lizzie disse...

Ao falar de pés lembro-me logo uma frase de Jorge Palma: "Olha que os nossos pés, mesmo que às vezes estejam de revés, são se proteger... Respondem à voz do coração."
A minha adaptação: "Cuida bem dos teus pés: eles nunca mentem e a verdade não se quer com calos. Toca a esfoliar!”
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