sábado, 29 de novembro de 2008

O que faz uma mulher?

Um cabelo longo,
ligeiramente ondulado nas pontas,
de cor fulva ou preta,
uns olhos de amêndoa,
grandes e maldosos,
nem importa a cor.
Um nariz pequenino
E arrebitado,
Uma boca carnuda
Pintada de carmim.
Uns seios decididos
e cheios quanto baste.
Uma curva vertiginosa
Até à anca opulenta.
Uma púbis macia,
E pernas suaves…
Eis o que faz uma mulher
!

domingo, 23 de novembro de 2008

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

O pé japonês


Falemos dos pés agora. O assunto é ainda mais interessante, pelo contraste que oferece com esses outros membros, atrofiados ou repelentes, da gente ocidental, que pés também se denominam. Se a mão japonesa é um enlevo, o pé é outro enlevo. (…)
Agora, naturalmente, vamos pousar o olhar sobre os pés da musumé; pousar é o termo próprio, como uma borboleta amorosa vai pousar sobre a corola de uma açucena. Naturalmente, pelos mimos do sexo, o pé da japonesa é mais gentil que o pé do nipónico; e quando a japonesa vive uma existência suficientemente recatada para poder esquivar-se aos poderes das intempéries (…), o seu pé nu, sobre a esteira doméstica e assente sobre a gheta gentil se sai para a rua, apresenta de ordinário uma extrema graciosidade, que qualquer explicação verbal não lograria definir. Para o estrangeiro recém-chegado, esta ponta de nudez inesperada, que surde da fímbria da seda do quimono, é encantadora; os gestos deste pé, as curvas ocasionais em que se requebra, a sua verdadeira mímica não só encantam, mas assombram, como uma intensíssima revelação estética, de que a Europa nem sequer nos oferece um vislumbre fugidio…por causa dos mofinos sapateiros!...”
Wenceslau de Moraes, in Antologia

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

O CANTO DE PENÉLOPE




Queria abraçar-te
hoje.
Entristeço-me
pelo tempo perdido.
Entristeço-me
pelos beijos não dados,
pelos risos que não temos
e lágrimas nossas
que não secamos.

Triste amor
o meu,
que fenece,
igual a bela flor
colhida antes da hora.

Pobre amor
o nosso,
que morre
antes da madrugada.

sábado, 15 de novembro de 2008

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

A mão e o pé japoneses - parte I

"Pousada é um deleite. Em movimento, na mímica trivial dos seus misteres, é uma pasmosa revelação de estética asiática, na sua feição mais transcendente, que escraviza os nossos olhos, e quantas vezes os nossos corações!...Segundo a clássica e lendária compreensão dos fenómenos psíquicos desta gente, indica-se que a coragem reside na barriga, a paixão no coração, o raciocínio na cabeça; e admite-se que, por uma rigorosa disciplina educativa, a alma nipónica pode localizar-se de preferência em qualquer destes centros que indiquei.
Sendo assim e convindo que a mulher japonesa seja particularmente educada para o enlevo do lar, para o arranjo das pequeninas coisas domésticas, para o carinho da família, eu quero que a alma dela resida nas pontas dos seus dedos. Nisto creio;e asseguro que não há maior encanto, debaixo de um ponto de vista estético, do que seguir com o olhar o gesto meigo da filha do Nippon, nas suas ocupações comezinhas, preparando o chá, penteando-se, colhendo flores ou insectos, tocando no shamicen, afagando um filho ou um irmão... - Um tal encanto tende a transformar-se em culto; e chegamos até a invejar os mortos, por cuja bem-aventurança, junto do altar dos antepassados, quotidianamente aquela mão se eleva em prece fervorosa."
in Antologia, Wenceslau de Moraes

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Algazel fragmentado



Vejo-te
Em cada rosto que passa.
Aqui
uns cabelos finos,
ali
uns olhos tristes, cinzentos
"como duas violetas debaixo de água",
Uns lábios grossos,
Dedos longos…
Se pudesse roubar cada pedaço,
Ter-te-ia junto a mim,
Por inteiro.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

DOMINGOS ESCOLHIDOS

“Mais, deverá acrescentar a estúpida vaidade de poder contar uma história aos seus botões e aos seus catorze amigos mais íntimos, o perigo dos vossos encontros que é sempre um gozosinho ao princípio, o mistério de que deverão cercá-los, as cartas apaixonadas, o inevitável retrato, as olhadelas no teatro ou em passeio, etc.
Poderia apontar-lhe mais algumas satisfações do seu amor-próprio. Juntando-as todas podemos inscrever na tal coluna outros 100.000. Soma total no primeiro mês: 300.000.”

sábado, 8 de novembro de 2008

E porque não um poema?!

Valsinha, Vinicius de Moraes

Um dia ele chegou tão diferente
Do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a dum jeito muito mais quente
Do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto
Quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto
Pra seu grande espanto convidou-a pra dançar
E então ela se fez bonita
Como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado
Cheirando a guardado de tanto esperar
Depois o dois deram-se os braços
Como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça
E começaram a se abraçar
E ali dançaram tanta dança
Que a vizinhanca toda despertou
E foi tanta felicidade
Que toda cidade enfim se iluminou
E foram tantos beijos loucos
Tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu em paz

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Eco


Acho o corpo da mulher dono de uma beleza sagrada e vertiginosamente emocionante.
Que estranho, quando eu me dispo perto dele e ele nem sequer me olha.
Eu, depois de tanto tempo, ainda sinto um íman poderosíssimo que me atrai ao peito branco dele, quando o olho, nu.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

O jovem Pastor e a Fadazinha, Máximo Gorki

“-Quando não te via, não havia tristeza em mim. Nesse tempo era livre. (…) Mas agora, depois que estás comigo, já não me é possível viver como desejaria, (…) porque partir sozinho seria causar-te um desgosto, e eu amo-te e tenho pena de ti. (…) E quando se ama e se tem pena, e se deseja ou teme qualquer coisa, então já se não é livre… (…)
- Dizes a verdade, eu também a direi. (…) Troquei tudo isso contra o quê? Diz-me. Não foi por esses minutos em que os beijos se tornam tão ardentes que chegam a arder? Se é esse o preço é pagar bem caro…E tudo o que soube de ti, seria melhor não o ter sabido. (…) Falaste-me do destino e da morte…Mas que há neles de bom? Se não soubesse que existiam, seria mais alegre, porque saber pensar não torna a vida melhor…Pronto, também eu te disse algumas palavras, e talvez te dissesse mais se pudesse arrancar o meu coração e levá-lo nas mãos até aos teus olhos: poderias ver o que há nele. És inteligente, diz-me então porque tudo isto evolucionou deste modo?
À primeira pergunta nem o pastor, nem a estepe, nem o céu que ele contemplava tristemente respondiam. Quanto à segunda, Maia e ele próprio já tinham respondido.
- Não há sábio que possa dizer porquê: esse sábio não existe, segundo penso. (…) Somos culpados um perante o outro? Não creio…Aperta-te então contra o meu peito, abraçar-te-ei e beijar- te-ei…
Maia olhou-o. Antes era belo, forte e audacioso (…) agora um pouco mais magro, pensativo.
Viveram assim e, olhando-se um ao outro, tornavam-se cada vez mais inúteis, aborreciam-se dia a dia mais e cada vez melhor compreendiam e viam o seu aborrecimento; e cada vez mais o pastor tinha vontade de partir para qualquer parte, longe, muito longe, onde não haveria nada que ele não soubesse ou de que não pudesse ter uma ideia; Maia definhava a olhos vistos, empalidecia cada vez mais e concentrava os seus pensamentos numa única interrogação constante: Porquê? Porquê?”

domingo, 2 de novembro de 2008

Caro Pai natal:

Deito-me cedo e cedo ergo-me porque
dá saúde e faz crescer.
Faço desporto uma vez por semana
porque ajuda fisica e mentalmente.
Aturo a minha mãe, educo a minha irmã e não faço cabelos brancos ao meu pai,
porque eles são da família...
Trabalho e preparo o trabalho em casa com antecedência
para poupar tempo e surpresas.
Tenho paciência, sim, eu tenho muita paciência!
Tiro tempo para ver os amigos, mando postais de aniversário,
porque eles merecem.
Faço reciclagem, a pensar nos filhos dos outros.





sábado, 1 de novembro de 2008