"Mas não basta abrir a loja. É preciso fazer negócio e aí é que a porca torce o apêndice traseiro. Escrituremos primeiro a página Haver: a das delícias, a dos transportes terrestres, a boa página, enfim…
A senhora, aGora, parece-lhe bonita. Calculo que deve ter mais de sete e menos de cinquenta e quatro anos. Daí provém uma verba que escreveremos no alto da coluna: 100.000, por exemplo. O senhor está na convicção de ser o primeiro que a impressiona ilegitimamente e ela tratará de o instalar nesse convencimento. Seria inútil alguém lembrar-se que quase sempre antes do primeiro há um rés-do-chão e amiúde uma sobre-loja. Dali provém uma série de remorsos fingidos – e digo fingidos porque, quando elas se resolvem a essas coisas não é para se arrependerem senão bastante tempo depois – falsos pudores com a sua lágrima à mistura, protestos de amor e declarações peremptórias de que só o senhor a levaria a tais extremos, enfim, uma enfiada de pequeninas coisas que datam do tempo em que a Mãe Eva flirtava com os orangotangos do Paraíso e que o encherão de um júbilo, apanágio das inconsciências ingénuas e que trataremos de escriturar logo a seguir: 100.000 também."
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